No dia mais infeliz da minha vida, dei entrada nas urgências do hospital da Guarda onde me deram uns pontos e fizeram um penso qualquer. Ainda alertei que já tinha sido operado a essa articulação, mas nem isso chamou mais a atenção dos médicos. Mandaram-me embora, sem me dizerem mais nada (…).
Por sorte vim para Lisboa, onde fui às urgências de um hospital. Inicialmente fui observado por um estagiário, acho eu, mas que chamou um ortopedista. Esse, pela cara que fez, acho que não queria acreditar naquilo que viu e exclamou: “Isto só na Guarda!”. Tiraram-me os seis pontos, abriram-me a ferida, deram-me uns pontos interiores, por ter o músculo rasgado, e tiveram que cortar pele morta à volta do golpe, isto dois dias após a ida ao hospital da Guarda. Meteram um dreno e nesse mesmo golpe levei mais de 15 pontos em Lisboa, depois foi-me imobilizado o membro com gesso. Já vou com quatro semanas de gesso, não por ter alguma coisa partida, mas para que a ferida cicatrize melhor.
A diferença de tratamentos até poderia acabar por aqui, mas não. Apesar de haver em Lisboa muitos mais pacientes, mesmo assim foi-me logo marcada uma consulta para oito dias depois pelo ortopedista que me atendeu para avaliar a evolução do ferimento. Desde então que lá vou todos os oito dias. Numa dessas consultas foi-me dito pelo médico que este trabalho deveria ser feito na Guarda, pois é tudo devido a um mau trabalho feito no hospital local. Mais uma vez senti vergonha de ter nascido na Guarda, pois pareceu-me que médicos e enfermeiras tinham a ideia de que o desenvolvimento ainda não chegou ao interior.
Será esta a diferença entre os hospitais do interior e os do litoral? (…), só sei que em Lisboa se preocupam com os pacientes, seja quem for, e na Guarda, possivelmente, serão precisos conhecimentos estratégicos para se ser bem tratado. Mas espero ter sido uma excepção à regra, porque se todos são tratados como eu, não sei qual o propósito de um hospital. (…) Mais vale encaminharem os doentes para um local onde sejam tratados condignamente.
De resto, acredito que se tivesse continuado a ser tratado na Guarda teria um grave problema para curar um golpe numa articulação. Talvez para mais de um ano ou, pior ainda, acabaria por ficar mesmo sem ela. Sejam responsáveis por aquilo que fazem, não pensem só no fim do mês, preocupem-se também com os pacientes e honrem a profissão. (…).
Manuel Joaquim, Lisboa, carta recebida por e-mail