«É um rapaz jovem, solteiro e não muito fiel». São estas as palavras que Fernando Santos Costa, nascido em Trancoso em 1951, utiliza para descrever o protagonista do seu primeiro romance policial, um inspetor tributário. «Não vejam nele nada do Santos Costa», brincou o autor, que pautou a apresentação de “A mulher que sabia tudo”, que decorreu na “cidade bandarra” no sábado, pela partilha e troca de impressões com quem estava habituado a lê-lo noutra “pele”.
A obra, editada pela Chiado Editores, surge depois de meia centena de livros de história, monografia, ficção e etnografia, muitos dos quais em banda desenhada; e ainda cerca de 200 contos “cor-de-rosa” numa revista semanal. No entanto, o novo livro é a confirmação do gosto por este género, que já motivara a reunião das quase 700 obras da coleção Vampiro: «Gosto muito de romance policial, pois desafia o leitor a participar na história», confessou Santos Costa, que recusa comparações com o personagem principal, que também é narrador. «É uma extensão da minha imaginação», evidenciou o investigador, que escolhe “Hurricane” (Furacão), da banda 30 Seconds to Mars, como a música aglutinadora do decorrer da ação.
Um sequestro, um morto, uma mulher bonita e uma estação do metro precipitam-se no desenrolar da trama, em que o inspetor tributário se envolve numa investigação particular para descobrir os culpados. Mas o autor deixa um aviso: «Ele está habituado a crimes fiscais, não a crimes de sangue», comentou. «Tive a ousadia de escrever e propor este livro, pelo que espero que chegue à leitura com todo o agrado possível», referiu o escritor, votando que «a leitura faça esquecer momentos menos bons da atualidade». O “palco” é a cidade de Lisboa, um ambiente citadino que contrasta com a gente do povo que “habita” obras anteriores.
O livro foi apresentado pelo ex-diretor distrital de Finanças da Guarda Fernando Anciães, que trabalhou com Santos Costa na repartição de Trancoso, nos anos 70. «Era funcionário público por profissão, mas por vocação já era artista e escritor», frisou Fernando Anciães, elogiando o «interesse em divulgar tanto a cultura como as figuras históricas do concelho, que lhe deve muito». O ex-diretor distrital testemunhou a sua leitura das obras prévias do trancosense, salientando o «humor sadio» e a «capacidade de ver os pormenores que muitas vezes passam despercebidos». Apesar de entender que as caraterísticas se mantêm, o interveniente defende que “A mulher que sabia tudo” «introduz algo inovador; ele lançou-se neste mundo e saiu-se bem». «Li de uma assentada, o que diz da qualidade», vincou.
Sara Quelhas