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O hábito faz o monge

Primeiras Jornadas Internacionais de Arte & Moda da UBI debateram a influência da moda na sociedade

Não restam dúvidas de que “o hábito faz o monge” numa sociedade bombardeada pela moda e pelas modas. Pelo menos assim acredita Rui Miguel, presidente do Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis (DCTT) da Universidade da Beira Interior, e um conjunto de 22 especialistas nacionais e internacionais que debateram, durante três dias, o vestuário e a moda nas primeiras Jornadas Internacionais de Arte & Moda da UBI.

«Efectivamente, as pessoas vestem-se ou “fardam-se” em função daquilo que pretendem mostrar à sociedade. No fundo, em função do seu estilo de vida e da sua forma de pensar. E portanto, o hábito faz o monge», concluiu Rui Miguel, coordenador destas jornadas, bastante satisfeito com o sucesso do evento. Reflectir sobre a influência da moda e do vestuário no carácter do ser humano e nas relações sociais e individuais foram alguns dos objectivos das conferências que atraíram dezenas de estudantes e participantes ao longo dos três dias. É que, actualmente, estar na moda é estar “in”. «A moda está presente em quase tudo no dia-a-dia. Adopta-se o penteado da moda, fala-se do filme da moda e todos lêem o livro da moda. Nos restaurantes, opta-se por um vinho alentejano porque está na moda ou adquire-se o telemóvel da moda», exemplificou a jornalista Ana Rocha, no plenário “Psicologia e Moda”. «Haverá alguma pessoa que nos últimos 12 meses se tenha rejeitado às modas», inquiriu a assistência, que não a contrariou.

É que, consciente ou inconscientemente, todos aderem às modas que desaparecem tão rapidamente como surgiram. «A moda é uma necessidade de reconhecimento e de pertença no grupo. É também uma necessidade de auto-estima», acrescenta a jornalista, assegurando que a maior parte das pessoas são «”Fashion Victims”, vítimas da moda». «Há a necessidade de consumir os produtos da moda, embora conscientes de como isso afecta a nossa bolsa», acrescenta. Ideia partilhada, de resto, por Rui Miguel, para quem vivemos a «ditadura» do mercado. «A dinâmica de dominar o mercado não é feita empiricamente. Utilizam-se técnicas de levar o mercado a consumir e as pessoas são, efectivamente, influenciadas a usar e a vestir um determinado produto. É a moda e o mercado a isso obriga», reforça. A importância que o tema suscita levou já a organização a pensar na realização das segundas jornadas. É que «não há moda sem uma base cultural forte», salienta o presidente do DCTT, reconhecendo a importância das jornadas para a formação dos futuros licenciados em Engenharia Têxtil e Design Têxtil e do Vestuário. «É extremamente enriquecedor para quem tem que trabalhar com tecidos e vestuário terem esta base cultural, onde os conhecimentos artísticos e estéticos representam uma mais-valia», aponta.

Liliana Correia

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