É possível ouvir sem ser com os ouvidos e falar sem ser com a boca. Há oito anos que funciona, na Guarda, a única associação de toda a Beira Interior destinada a apoiar os portadores de surdez. A “Despertar do Silêncio” existe desde Abril de 2000 enquanto instituição particular de solidariedade social (IPSS), pretende facilitar o encontro de crianças, jovens e adultos surdos e respectivas famílias e conta com 300 associados, metade dos quais são deficientes auditivos.
Uma boa parte do trabalho da instituição prende-se com o envolvimento da comunidade na problemática da surdez, mobilizando instituições e criando condições para que os surdos possam ser mais activos. A associação foi fundada por um grupo de professores ligados à equipa do ensino especial da Guarda. «Os surdos completavam o nono ano e depois não havia um encaminhamento», recorda a actual presidente da direcção. Emília Nunes sublinha que a detecção precoce e o encaminhamento da criança com surdez é «a única via possível para uma boa integração», sendo que esse é outro dos objectivos da associação. Por outro lado, têm sido promovidos junto da comunidade vários cursos de língua gestual portuguesa para surdos e ouvintes. Depois, há ainda que «combater situações de marginalização e exclusão social e promover a inserção sócio-profissional dos deficientes auditivos», acrescenta a responsável. De resto, na associação são desenvolvidos projectos que contribuem de forma lúdica, pedagógica, ocupacional e terapêutica para o «desenvolvimento global da pessoa surda».
Desde logo, existe a escola de percussão “Ri-Bombar” (que integra o projecto “Andarilho” da Câmara da Guarda). Pioneira em Portugal, funciona desde Abril de 2002. Actualmente, é constituída por oito jovens portadores de deficiência auditiva de vários graus e tipos e por um músico percussionista que, voluntariamente, coordena o projecto. Outra das actividades de realce é o grupo de teatro gestual “Ecos do Silêncio”. Com cinco anos de existência, pretende ajudar os surdos a usar o corpo como veículo de comunicação e, em simultâneo, desvendar o universo do surdo. Existe também uma equipa de futsal que integra apenas elementos surdos. A boa notícia é que, brevemente, a “Despertar do Silêncio” poderá ter uma casa nova. As actuais instalações, na zona da Estação, funcionam num edifício cedido pela autarquia desde 2005, pelo período de 25 anos. Contudo, está prevista a sua demolição e reconstrução.
«O projecto prevê vários pisos, sendo que o rés-do-chão servirá para acolher a associação», revela Emília Nunes, confessando ser esta «umas das principais ambições» da instituição. É na sede que todas as histórias são partilhadas – entre actividades, convívios e pedidos de ajuda. Os surdos associados vêm da Covilhã, Castelo Branco, Viseu ou Lamego. «São pessoas muito comunicativas, conseguem relacionar-se muito bem, mas muitas vezes sentem-se sós», refere a dirigente, considerando que «a verdadeira surdez é a da mente».
Sábado é Dia Mundial do Surdo
A Associação “Despertar do Silêncio” assinala, no sábado, o Dia Mundial do Surdo com um encontro e convívio na sede, a partir das 14h30. Meia hora depois há uma sessão de jogos tradicionais e, pelas 18 horas, vai decorrer um jogo de futsal entre a associação e a CERCIG, no Pavilhão Desportivo de S. Miguel. Depois do jantar – servido na sede – está prevista a exibição do filme “PS – I love you”.
Rosa Ramos