Não posso deixar de voltar a esta polémica agora que ela será o palco da nova ARS do Centro. Coimbra tem dois sorvedouros do dinheiro público e um IPO mal arrumado. E tem cinco clínicas privadas com internamento.
Os HUC são o Hospital Universitário que não é fiscalizado ou verificado por força do medo de muita gente. Como se não houvesse interesse público por trás das instituições. Os HUC servem duas causas: a do ensino e a da saúde. Associo-lhe uma outra de não menos importância, a investigação. Mas tudo isto tem de ser contabilizado e definido fora de autonomias, uma vez que é o dinheiro público e os nossos impostos que ali se queimam sem verificação.
O CHC é um caso de ruína. As construções aos soluços formaram uma hidra onde ninguém se entende. Num espaço imenso construíram-se edifícios parasitas do miolo envelhecido e desse modo um labirinto sem destino. Agora temos janelas que dão para paredes e temos corredores sem fuga alguma. Tudo isto tem planos passados e planos actuais que imanam de um dos departamentos mais incompetentes com que cruzei na vida – a arquitectura hospitalar portuguesa.
Primeiro que tudo há perguntas: Manter um Centro Hospitalar? Que fazer às urgências dos dois hospitais? Quem tem a coragem de acabar com serviços duplicados que produzem de menos? Os HUC e o CHC têm de ser vistos como uma unidade, na análise da saúde em Coimbra. E também o IPO serve interesses iguais e portanto tem de ser repensado. E a Maternidade envelhecida que é a Bissaya Barreto?
Dinheiro? Basta fechar uma das urgências para libertar milhões. Mais dinheiro? Fechem uma otorrino, uma neuro-cirurgia, uma radiologia e libertam milhões? E depois? Depois há que organizar. Como? As pessoas terão de ser redefinidas nos quadros, as lideranças têm de mudar e as instalações têm de ser rentabilizadas. Não pode haver filhos e enteados, não pode haver gente com predicados especiais. Os Covões são Leiria, Figueira, Pombal, Aveiro e Viseu. Rentabilizados aqueles, restaria pouco ao Hospital dos Covões. Sobrava Coimbra aos HUC. Uma unidade modelar em Leiria deixava de transferir situações absurdas e por vezes ridículas. Um Hospital novo e melhor gerido em Aveiro diminuía o fluxo que chega aos HUC. Uma pequena unidade funcional na Figueira seria melhor que o mono que ali se projecta. Nem todos devem fazer tudo e nem todos são vocacionados para as mesmas tarefas. A coragem política está em construir um modelo que se baseia na clínica geral e medicina familiar, redução do peso dos atendimentos em urgência e correcção dos disparates das duplicações. Portugal apenas necessita de uma liderança nova na Saúde e pode ser testada na zona Centro contra ventos e marés. Afinal há mesmo médicos a mais, enfermeiros em excesso e auxiliares de menos para as tarefas de segurança higiene e hotelaria. Assim libertamos gente para o interior e para as unidades funcionais como Águeda.
Há serviços por aí com um médico apenas. Há gente que vive à tripa forra de nada fazer neste estatuto. Há Serviços que têm uma relação medíocre com trabalho igual feito na Europa. As armas estão aí: são a medicina baseada na evidência e a clinical governance. Há Directores que não cumprem a lei e são reconduzidos. Há um Portugal medíocre no seu máximo esplendor que deve ser mudado.
A Saúde com um plano para as regiões, com uma liderança eficaz e com apoio político pode rentabilizar milhões de euros de desperdício. A votação no Eng. Sócrates é um grito de esperança, um pedido dos portugueses para melhorar o estado das coisas.
Por: Diogo Cabrita