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«O futebol feminino é pouco visível devido a uma questão cultural»

Cara a Cara – Entrevista

P – Que balanço faz da recente prestação da selecção distrital feminina de futebol sub-17 no VIIº Torneio Inter-Associações?

R – A nossa associação já nos tem habituado a bons resultados. O ano passado vencemos o torneio, há dois anos chegámos à final e, desta vez, consideramos o terceiro lugar um excelente resultado, uma vez que a equipa está em renovação. As jovens atletas demonstraram qualidade e provámos que há futuro no futebol feminino do distrito.

P – Sente que poderiam ter alcançado, novamente, o primeiro lugar?

R – Podíamos ter chegado à final. Perdemos a meia-final e nos penalties por 11-10. Chegando à final tudo poderia acontecer, até porque a equipa que nos derrotou acabou por vencer o torneio e cada jogo é um jogo.

P – Com esta participação são já três excelentes prestações consecutivas. Qual a razão do sucesso?

R – A principal razão é a excelente qualidade das nossas atletas. Por outro lado, apesar do distrito ser pequeno, temos conseguido organizar, de há cinco anos a esta parte, o Campeonato Distrital de Futebol Feminino. O facto de termos as atletas em competição permite potenciar o seu talento e isso tem sido demonstrado pelos resultados, quer da selecção distrital no Torneio Inter-Associações, quer, inclusive, pela chamada de algumas das nossas jogadoras à selecção nacional de sub-19.

P – Quais são os objectivos para o futebol feminino a médio prazo?

R – Neste momento a competição inter-selecções terminou e está a decorrer a Taça Distrital. Para a próxima época pretendemos organizar novamente o Distrital de Juniores e, se possível, esperamos que apareçam equipas seniores no distrito para dar continuidade ao bom trabalho feito até agora.

P – Considera que deveria haver maior aposta no Campeonato Distrital de Equipas, atendendo aos bons resultados da selecção distrital?

R – Penso que sim. Se o s dirigentes quiserem, há potencial no distrito para haver jovens atletas a praticar futebol. Os bons resultados podiam motivar os clubes a participarem com mais equipas e teríamos um campeonato distrital melhor e, quem sabe até, uma prova sénior. As mulheres estão motivadas para jogar futebol, que não é só um desporto de homens, mas sim de toda a sociedade. Havendo mais investimento, teremos todas as condições para fazer um excelente trabalho.

P – Como avalia os actuais apoios para o futebol feminino?

R – Os apoios têm sido os mesmos que no futebol masculino, não se colocam restrições a esse nível. As nossas equipas estão bem orientadas e organizadas. Penso que financeiramente nunca estarão bem, mas os subsídios que recebem vão chegando. Na minha opinião, a evolução do futebol feminino passa pela alteração dos quadros competitivos nacionais, para que todas as equipas seniores que surjam possam participar no Nacional. Até agora, ainda não é possível e, por essa razão, ainda não apareceu nenhuma equipa no distrito da Guarda.

P – A que se deve a pouca visibilidade do futebol feminino em Portugal?

R – Penso que é por causa de uma questão cultural. Em Portugal, o futebol tem sido sempre um “jogo de homens” e nos países mais desenvolvidos politicamente também se nota o mesmo. No entanto, têm sido feitas algumas apostas e, num futuro breve, dada a paridade que há neste momento entre sexos, tanto rapazes como raparigas praticarão futebol de forma igualitária, ainda que em desigual número de praticantes.

P – O sucesso é sempre bom. Alcançá-lo a nível de futebol feminino tem, para si, um gosto especial?

R – Claro que sim. Qualquer indivíduo que consiga bons resultados, seja a nível masculino ou feminino, fica feliz. Esta boa prestação de resultados no futebol feminino é gratificante, uma vez que nos estimula a não “deixar morrer” o Distrital e a motivar mais as pessoas, nomeadamente os dirigentes, para continuarem a apostar nas raparigas para jogar futebol. No fundo, elas estão a projectar ainda mais o nosso distrito que os rapazes.

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