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O fogo

Bilhete Postal

Imagina que o fogo circundava a tua casa e não vinha ninguém. Imagina que o fogo assaltava o perímetro do teu jardim e depois galgava os canteiros e sucumbiam nele as flores e as árvores. O incêndio tocava-te à porta e soprava-te obscenidades aos ouvidos. Labaredas consumiam a porta e por fim partes do teu íntimo, já nos salões onde guardavas objetos que perpetuam memórias. Assim se sentem milhões de portugueses nestas horas em que alguns nos queimam o futuro, nos hipotecam as reformas, nos lançam nos casinos financeiros os bens públicos, nos atordoam de mentiras e nos enchem de flictenas – umas de limitações ao trabalho, outras de impedimento à livre iniciativa, outros de fiscalização abusiva. Sim, os terrenos no meu perímetro ardem e alguns dos que gosto correm como tochas e outros sucubem carbonizados de sonhos indevidos, de promessas fátuas. Portugal esmurece.

Por: Diogo Cabrita

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