Quem está atento aos problemas nacionais está também atento aos jogos políticos. Ouve o que dizem ministros, deputados, responsáveis partidários. É que, afinal, a resolução ou agravamento dos problemas passa sempre pela sua actuação. Pensava que as recentes eleições tinham ensinado alguma coisa aos profissionais da política. Como por exemplo que o resultado das eleições pode ter a ver alguma coisa com a opinião dos portugueses com a governação do país. E com a rejeição unânime e radical de uma certa maneira de dizer e fazer política.
Mesmo assim, muitos pensam que as eleições são uma espécie de campeonato que se ganha aos pontos. O adversário cometeu uma gaffe, perde um ponto; o nosso candidato teve resposta pronta nos debates e conseguiu encaixar dois apartes “bem esgalhados”, ganhamos dois pontos; atravessamos em momento oportuno um sound bite contundente, ganhamos um ponto. No final ganha quem tem mais pontos, não é?
Não, não é. Houve tempo em que os portugueses gostavam dessas coisas, mas isso era quando achavam a política divertida. Um deputado calava com “uma boca” um adversário no parlamento e a malta rugia de gozo: “aquele palhaço é muita giro, carago, partiu o gajo todo”.
A malta foi percebendo que o défice, o desemprego e a inflação não diminuem a golpes de apartes, ou com a acumulação de respostas prontas produzidas com eficiência em momento oportuno. No fundo, terminou o tempo dos palhaços.
São por isso simplesmente ridículas as reacções dos responsáveis do PSD à composição do governo, quando Guilherme, por exemplo, proclama que “a montanha pariu um rato”. Que linguagem é esta? Não aprendemos nada com os últimos acontecimentos?
O indigitado ministro das finanças avisa que pode ser necessário subir os impostos, caso não seja possível reduzir o défice por via da redução da despesa. A mim, isto parece-me uma evidência. Para os profissionais da velha política, não. Começaram logo a contabilizar os seus pobres “pontos”, na sua vã, na sua estúpida cegueira. Desconfio que na sede do partido têm um desgraçado de amanuense, dedicado a introduzir linhas numa folha de cálculo, a qual, maravilhas do progresso, lhes dá os resultados do seu triste campeonato em tempo real. “Amandem-lhes com o Alberto João que ganhamos mais cinco pontos com as bocas do gajo. As próximas eleições estão no papo, carago”. Há coisas que demoram muito tempo a mudar.
Por: António Ferreira