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O Fim do Distrito da Guarda

Quebra-Cabeças

Olhe-se para um mapa do Distrito da Guarda e tente-se perceber onde está o cimento que aglutine aqueles 14 concelhos. Algo que não seja o simples arbítrio do já longínquo legislador. Algo que tenham em comum, por exemplo, Manteigas e Vila Nova de Foz Côa. Diferenças há muitas: granito num lado, xisto no outro; indicativo de telefone 275 contra 279 (mas nenhum deles 271); climas diferentes, como diferentes são os recursos agrícolas, as tradições, a alimentação e, falando curto e grosso, tudo o resto.

Aquando do referendo sobre a regionalização viu-se que o distrito existia apenas no papel e que se iria desmantelar caso vingasse alguma das propostas de rearranjo territorial de que se falava. Foz Côa e Meda sentiam-se mais do Douro que da Serra, Seia e Gouveia reviam-se em Coimbra, o Sabugal na Covilhã, etc. Eram maiores as dissidências que as fidelidades, estas, aliás, forçadas pela cruel realidade da geografia. Onde podem pertencer Piinhel, Almeida e Castelo Rodrigo senão à Guarda?

O actual governo, como os anteriores, descobriu entretanto que algum rearranjo territorial tem de ser feito. Agora, em vez de regionalização, fala-se em áreas metropolitanas e em associações de municípios.

A falta no Distrito da Guarda de uma cidade com a dimensão de Viseu, Coimbra ou Aveiro dificulta as contas e prejudica algumas das possíveis soluções. Por isso a recente reunião em Belmonte de 13 autarcas dos distritos de Castelo Branco e Guarda aposta na comunidade urbana mais viável neste momento. É certo, como dizia Júlio Sarmento ao “Nova Guarda”, que é preciso alcançar “massa crítica” para tornar possível o desenvolvimento e, de per si, nenhum desses concelhos tem capacidade para a alcançar. Ou, como dizia Amândio Melo a este jornal, «o ideal é que possamos ter peso político e dimensão mais alargadas». Posta assim a coisa, parece que se trata apenas de poder berrar mais alto em Lisboa do que os outros. Uma espécie de lóbi do Interior.

O problema é que esse lóbi, a constituir-se, vai ser o mais fraco do país, aquele que vai ter menor poder reivindicativo apesar de ter a seu favor um argumento imbatível: representa uma das regiões mais pobres e mais necessitadas. E sabemos já o que vai acontecer quando houver que distribuir para a Madeira ou para a Beira Interior.

Fiquemo-nos portanto pela criação de “massa crítica”, que parece algo de mais realizável e mais útil. Parece possível agora, por exemplo, pensar entre vários municípios a criação de infra-estruturas úteis a todos eles. O que deixa em aberto uma pequena pergunta: considerando os custos e o possível benefício para toda a região, continua a ter sentido, depois da criação desta comunidade urbana, criar plataformas logísticas na Guarda e na Covilhã?

Por: António Ferreira

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