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O Estado da Nação

Agora Digo Eu

Quando em novembro de 2011 iniciei a colaboração com O INTERIOR escrevi «Quer nós quer a Grécia iremos oferecer a Sªs Exªs, uma enorme vara de porcos a troco de uma única chouriça, sujeitando-nos a uma pressão reles e ordinária de boy’s, troikas e apparatchikes».

Pois é… Em Portugal pagámos com língua de sete palmos, enquanto a Grécia, com todo o remorso de Orestes, continua a ser castigada pelas malévolas Erínias e se Tsipras transformou o referendo do não em sim, cedendo à pressão do “pensador” e “estratega europeu”, Passos, agora sabe muito bem qual o caminho a seguir. Rio sem regresso.

Estive atento ao último plenário da Assembleia da República antes de férias e verifiquei qual o verdadeiro Estado da Nação:

Ferro Rodrigues acusa o Governo de, ao longo de quatro anos, ter cometido sete pecados mortais, esquecendo-se que o executivo na sua postura urbana praticou, neste cantinho à beira mar plantado, os sete pecados rurais, visíveis numa quintarola em tudo idêntica à de Curral de Moinas.

Passos, por seu lado, agarra-se às dez pragas do Egipto e atira com piolhos, sarna e gafanhotos, lembrando que estes agentes patológicos podem por em causa o meio ambiente, o equilíbrio ecológico, a fiscalidade verde e até o saco de plástico.

Jerónimo, ao perceber que a praga pode ficar sem controlo, apressa-se a apresentar o antídoto e as técnicas de desinfestação para acabar de vez com inúmeros vetores, baratas, formigas, traças, dengues e até insetos xilófagos e ixodídeos.

Mais soft foi Catarina Martins ao afirmar que o ainda primeiro-ministro empandeira tudo, num verdadeiro processo “low cost”, onde Passos se diverte assumindo o papel de caixeiro-viajante com tenda montada numa qualquer garagem. Desde que entre algum, é vender ao desbarato.

Também Heloísa Apolónia quis ir a jogo utilizando para tanto um trocadilho de palavras numa diferença entre Portugal e a República Checa. Afinal, Praga é a capital dos checos, enquanto Portugal tem a verdadeira praga no Governo.

Numa tirada digna da direita à portuguesa, Telmo puxou dos galões democratas-cristãos e, ouvindo falar de pecados venais e pragas mitológicas, socorreu-se dos velhos versículos satânicos naquela interessante e acalorada discussão entre Gibrerel Farishta e Saladin Chamcha e, não gostando nada das sondagens que colocam o rival PS uns pontitos à frente, cita o escriba bíblico Mateus no seu capítulo VII, versículo 15º: «Desconfiai dos falsos profetas», esquecendo-se, ou não lhe interessando, concluir o pensamento que termina assim «muitos deles aproximam-se agora disfarçados de ovelhas, mas no íntimo são lobos devoradores».

Verdadeiro Estado da Nação:

Dois milhões de pobres efetivos, tal qual nos anos 90.

Dois milhões (a maior taxa de emigração) só comparáveis aos anos 60.

Investimento em tudo idêntico ao final dos anos 80.

Desemprego superior ao registado no final do século passado.

Salários, reformas, direitos, poder de compra é o que se sabe.

Dívida pública a passar dos 170 mil milhões em 2011 para os 220 mil milhões em 2015.

Neste processo de meias verdades e meias mentiras, com inúmera gente já instalada e outra em bicos de pés, outros ainda a concluírem o curso de paraquedistas, uns em queda livre, outros em barra extrativa, olhamos para o escaparate, já em saldos de verão, com ofertas e enormes descontos pré-eleitorais, onde os vendedores de ilusão apregoam produtos para (quase) todos os gostos, exceção feita ao PS que se adiantou (“candeia que vai à frente alumia duas vezes”) e, pelo menos desta vez, apostou muito bem no cabeça de lista, Santinho Pacheco. Mas, há sempre um mas e, como não há bela sem senão e o tal paraquedismo militante tinha de vir ao de cima, toma lá com a Maria Antónia Almeida Santos para segundo da lista. No PS, uma no cravo, outra na ferradura, esperando ansiosamente para ver a candidatura desta coligação que, por enquanto, nos governa. Se é o Barreto ou o Carlos Peixoto.

Os partidos, as políticas e os políticos têm destas coisas. Até os há que sabem muito bem aplicar o princípio da verdade evidente, tornando-se efetivamente convincentes, verdadeiros e autênticos: «A zona euro são 19 países. Espero que a Grécia não saia, mas se sair, ficam 18».

Regresso ao Vosso convívio em Setembro.

Até lá. Votos sinceros de umas boas férias.

Por: Albino Bárbara

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