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O Entrudo vai ser enterrado na Guarda

Tradicional cortejo carnavalesco promete contagiar as ruas da cidade com muita folia na noite de Carnaval

Mais de duas centenas de actores e figurantes, de várias colectividades do concelho e não só, vão recriar a secular tradição carnavalesca do “Enterro do Entrudo”, revivida todos os anos em Famalicão da Serra. Entre as personagens destaca-se o Entrudo (como não podia deixar de ser), a matrafona, sua mulher, a comadre morte, o padre, os acólitos, o coro e outras surpresas, que asseguram a dramatização deste enterro que promete contagiar as ruas da cidade com muita animação. O espectáculo é o resultado de um desafio lançado à autarquia pela Rede de Animação Cultural da Guarda. O cortejo realiza-se na noite de Carnaval (19 de Fevereiro).

O projecto “Todos à Roda” nasceu no ano passado no seio do Aquilo Teatro, Centro Cultural de Famalicão e Raiz de Trinta – Associação Juvenil. «O objectivo geral é construir, em conjunto, uma nova ambição sócio-cultural e artística em volta da identidade local, através da realização de actividades de animação», explica Victor Amaral, coordenador geral e da direcção artística do espectáculo. Daí nasceu a vontade de recriar uma tradição secular nalgumas freguesias, como é o caso de Famalicão da Serra, «mas dando-lhe outra envolvência», justifica. Assim, a partir da tradição do “Enterro do Entrudo” está a ser produzido um espectáculo de animação teatral que pretende envolver várias colectividades do concelho da Guarda. Para além destes actores e figurantes convidados, também fazem parte do enredo uma dezena de actores bailarinos da companhia alemã Antagon Theater. Ao todo participarão 270 personagens. «Houve um contacto nas aldeias onde havia essa tradição para percepcionar a origem e retomar esse costume, com as mesmas personagens e outras», adianta Victor Amaral. Mas os textos finais foram escritos por Rui Prata e Honorato Esteves.

«Procurámos olhar para a tradição, mas acima de tudo, tentar inovar e buscar alguma inspiração na tragédia clássica, passando por Gil Vicente, num registo mais popular e sério», revela Rui Prata. Paralelamente ao processo de criação do espectáculo, há também um trabalho de “workshop’s” e oficinas. Em Novembro, realizou-se um curso de espuma flexível de poliuretano e de moldes, estando agora a ser elaboradas as máscaras e os figurinos. Sabe-se já que o Estabelecimento Prisional da Guarda vai trabalhar nalguns endereços. Por sua vez, Bernard Bub, do Antagon Theater Aktion – grupo que actuou na Praça Velha em 1998 e 2000 –, considera que o projecto é «um intercâmbio cultural onde se interligam as formas tradicionais com o teatro do espaço público». Já a Câmara da Guarda, co-produtora do espectáculo, contribui com 25 mil euros, revelou Virgílio Bento, vice-presidente da autarquia e vereador com pelouro da Cultura. “O Enterro do Entrudo” inspira-se na tradição etnográfica de algumas aldeias do concelho da Guarda, surgindo na cidade num cortejo-espectáculo festivo de grande envolvimento colectivo e popular. Desde o simbólico nascimento humano, dos efeitos de luz, à invasão da folia, da pirotécnica, do carro de Baco, da música, da alegria…até à morte do Entrudo, o cortejo fúnebre, a comédia e crítica social e do grande final com fogo, em que o povo aproveita para expurgar os males terrenos com muita festa.

Patrícia Correia

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