P – O Núcleo comemora agora dois anos de existência na Guarda. O que é que já foi feito?
R – O Núcleo iniciou formalmente a sua actividade em Novembro de 2003 e desde essa altura tem desenvolvido um conjunto de acções no âmbito de três principais eixos – informação, formação e investigação. Destaco, apenas, o boletim trimestral, a dinamização de um centro de documentação e informação, dinamização de “workshops”, a organização de acções de formação para técnicos e dirigentes das instituições e os dois estudos de investigação que estamos actualmente a desenvolver – Diagnóstico Social do Distrito da Guarda (em parceria com a Redes Sociais) e um estudo sobre as ONG’s aqui existentes.
P – Como descreve o panorama da pobreza e da exclusão social no distrito?
R – Sobre esta matéria, o Núcleo Distrital da Guarda da REAPN pretende ter uma resposta mais objectiva e consistente no final do próximo ano, uma vez que vamos fazer constar do Plano de Actividades para 2006 um projecto de investigação para realizar um Estudo sobre a Pobreza no Distrito da Guarda. Contudo, decorrente de algumas características como a interioridade e ruralidade, o decréscimo progressivo da sua população residente, a desertificação, o envelhecimento e a redução da taxa de natalidade, entre outras, o distrito da Guarda é um território vulnerável à pobreza e exclusão social.
P – O sucessivo encerramento de unidades fabris é o principal responsável?
R – Todos temos consciência que, numa conjuntura económica mais difícil, os problemas tendem a agravar-se e isso tem implicações directas nos territórios e nas pessoas que nele residem. No entanto, a pobreza é multidimensional e transversal (ausência de recursos financeiros, de oportunidades, de participação, de afectos, de emprego, de acesso e de sucesso…) não podendo ser vista nem abordada tendo em consideração, apenas, uma esfera. O desemprego pode influenciar e facilitar a emergência de situações de pobreza porque coloca pessoas, e agregados familiares, em situação de vulnerabilidade, mas não é o aspecto determinante. A pobreza tem alicerce em diversos sectores.
P – O que falta fazer para combater estes flagelos sociais?
R – Na sua actuação concreta, e mais especificamente na declaração publicada e divulgada recentemente para assinalar o dia 17 de Outubro – Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, a REAPN assinala cinco eixos fundamentais para fazer face à pobreza e exclusão social, nomeadamente reforçar a democracia pela participação co-responsável da sociedade civil; ter o princípio da subsidiariedade como uma orientação primordial; incentivar e desenvolver profundas articulações entre todas as políticas e sectores de intervenção; observar, monitorizar e avaliar de uma forma participada todos resultados e, promover a escuta e a dinamização da participação activa dos cidadãos, particularmente dos que enfrentam situações de pobreza e de exclusão social. É, para nós, urgente que se passe da teoria à prática e se encontrem soluções planeadas, integradas, sustentadas e integradoras para e com as pessoas em situação de vulnerabilidade.
P – Quais é que são as prioridades da REAPN?
R – O acesso à formação e informação é uma das prioridades da REAPN e do Núcleo Distrital da Guarda, pois consideramos que com instituições e técnicos mais formados e informados teremos também pessoas mais esclarecidas. Por outro lado, a REAPN defende a criação de políticas activas de integração e inserção que não passam, apenas, pela via económica e/ou assistêncialista. A luta contra a pobreza tem, portanto, que se transformar numa causa e prioridade nacional.