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O dia em que Eusébio jogou na Guarda

Antigo futebolista falecido no domingo participou num jogo solidário que encheu o Municipal em 1992

Foi a 1 de maio de 1992 que o Estádio Municipal da Guarda registou uma das suas maiores enchentes de sempre e o motivo não era para menos. Apesar de já ter pendurado as chuteiras há alguns anos, Eusébio aceitou participar num jogo de solidariedade cujas receitas iriam ajudar financeiramente várias instituições do concelho.

A antiga glória do Benfica e da seleção nacional morreu na madrugada do passado domingo e O INTERIOR falou com quatro jogadores das Velhas Guardas da Associação Desportiva da Guarda que tiveram o privilégio de defrontar o “pantera negra” há quase 22 anos. Segura Fernandes recorda que Eusébio jogou na cidade integrado numa equipa do Club Portugal, uma espécie de formação de veteranos que incluía antigos elementos da seleção nacional. «Conseguimos sensibilizar os seus responsáveis para que Eusébio, José Torres e os irmãos Alhinho, entre outros, pudessem vir à Guarda e conseguiu-se angariar uma receita bastante significativa com o Estádio Municipal a registar uma enchente difícil de repetir», recorda o então vereador da Câmara. Na altura, o município providenciou um autocarro para trazer os jogadores adversários e a lenda do futebol mundial fez uma pequena exigência: vir no carro da presidência até à Guarda.

O também antigo jogador recorda que, em virtude das funções que então desempenhava, teve um «relacionamento privilegiado» com Eusébio nesse dia «histórico». Um dos temas de conversa foi um jogo realizado nos Estados Unidos em junho de 1979 entre a Naval 1º de Maio, clube que o então jovem Segura Fernandes representava, e o Vasco da Gama de Bridgeport, que Eusébio representou nesse dia. Já do convívio na Guarda, o antigo atleta, hoje com 56 anos, recorda Eusébio como uma pessoa «humilde, simples, sem grandes problemas de relacionamento com qualquer pessoa e um bom homem que partiu cedo demais». Mário Fonseca foi outro dos ex-atletas da Desportiva que jogou contra Eusébio em 1992 e afirma que o “King” foi «uma referência para todos aqueles que gostam de futebol» e que «estava sempre pronto a ajudar o próximo».

O antigo jogador, atualmente com 65 anos, lembra que o ex-avançado foi «um ponto de referência para cativar as pessoas a virem ao jogo», que proporcionou «uma das maiores enchentes de sempre no Municipal». Mário Fonseca retém um «dia espetacular e maravilhoso que ficou na memória de todos com um convívio fenomenal». Do jogo propriamente dito, recorda-se que Eusébio, então com 50 anos, «não jogou o tempo todo mas ainda nos fez mossa num ou noutro livre». Também António Elias defrontou Eusébio e do jogo lembra-se que o craque, «apesar de já ter problemas nos joelhos, ainda fez uma “perninha”» para satisfação da numerosa assistência num «dos dias em que o Municipal teve mais gente». Quanto ao jantar, o ex-jogador de 54 anos fala em alguém «humilde, conversador, que alinhava em anedotas e no convívio, apesar de ser uma figura conhecida a nível mundial». Por seu turno, Hélder Jerónimo, outro antigo atleta da Desportiva da Guarda, diz que foi «uma honra ter jogado ao lado de Eusébio» com quem teve a oportunidade de «trocar algumas palavras de circunstância». Ao jantar, pôde constatar a sua «simplicidade e a forma como falava com os colegas. Era formidável», resume o antigo atleta, hoje com 61 anos.

Ricardo Cordeiro Eusébio, quarto a contar da direita na fila de cima, ainda fez mossa nalguns livres

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