“ – Mãe, porque é que os barcos não se afundam?
– Porque o casco é forte e o mar é fundo, filha.
– Não percebo, mãe.”
A contratação colectiva constituiu uma grande conquista dos trabalhadores.
No dealbar do século XIX, depois de uma revolução industrial feita à custa de crianças raquíticas mantidas às escuras em grandes superfícies industriais, de mineiros afundados em túneis mal escorados, de jornadas de 16 horas, de abuso sexual de mulheres, de ordenados miseráveis e de falta de protecção social, constituiu um importante instrumento anti-discricionário que permitiu obter umas série de direitos e garantias que são a base do actual direito do trabalho nas sociedades modernas e democráticas. Viva Marx!
No entanto, como tudo na vida, tem algumas desvantagens.
Ao proteger o contratado do livre arbítrio da entidade patronal, também impede a descriminação positiva e negativa, ou seja, uma pessoa pode trabalhar muito ou trabalhar pouco que, desde que cumpra os mínimos exigidos, tem o emprego e o ordenado garantidos ao fim do mês.
E… quem é que estabelece esses mínimos?
Quem é que controla a qualidade do servico prestado?
Quem é que garante que a peça produzida na fábrica tal funciona realmente?
Pois é! O mercado.
Se não prestar, ninguém compra.
Viva a sociedade de consumo!
E quando o Estado é o único prestador de um determinado servico (água, luz, comunicações, saúde, educação)?
E quando esse servico é prestado por uma classe com grande poder e prestígio como é o caso dos médicos, dos enfermeiros e dos técnicos de saúde? Ou dos magistrados? Ou dos professores?
E quando essa classe, por razões éticas ancestrais, é tão solidária entre si que se protege mutuamente nos erros e nas maquinações?
E quando a cooperação e a solidariedade interpares se transforma em corporativismo na pior acepção da palavra?
E quando o aparelho é tão grande e tão pesado que suporta não sei quantos parasitas nele pendurados sem ir ao fundo?
Não se sabe nunca muito bem quem está ou quem falta, quem faz ou quem deixa de fazer, quem se preocupa ou quem desleixa. Nós sabemos, claro, até porque aparamos o jogo uns aos outros, mas ninguém fala, ninguém quer ser mau colega, ninguém quer prejudicar a imagem da classe e/ou da instituição.
A empresa adquire a sua própria inércia, desenha o seu sulco sobre a terra e sobre ele desliza inexoravelmente em direcção ao futuro, arrastando moreias de pedras à sua passagem.
Se o Titanic não tivesse batido no iceberg ainda ninguém hoje saberia que não tinha o número de escaleres suficiente para assegurar a evacuação dos passageiros.
Quem nos vale, então?
Até que haja uma desgraca? Ou a sociedade não suporte mais o peso destes gigantes consumidores de recursos e comece a questionar a sua eficácia?
A comunicação social, talvez?
Por: Maria Massena