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O corpo humano e o espaço

Mitocôndrias e Quasares

A exploração espacial sempre despertou no ser humano um interesse muito forte, seja por questões científicas, ideológicas ou políticas. Quando Jules Verne, nas suas ficções, olhou para o Lua como um local que poderia ser conquistado pelo Homem, estava longe de imaginar que umas décadas mais tarde a sua história se iria concretizar. Serve isto para refletir sobre a ideia científica mais arrojada da história da humanidade: colocar um ser humano em Marte.

Um projeto desta dimensão, com este grau de complexidade e com esta dificuldade pode, aos olhos de muitos, ser uma quase utopia, sendo apenas possível no grande ecrã. Acontece que, atualmente, já existe uma variedade de ideias, caminhos e protótipos tecnológicos a serem testados, para dar corpo a este empreendimento científico e tecnológico.

Marte é o segundo planeta rochoso mais pequeno e o quarto a contar do Sol. Tem cerca de metade do tamanho da Terra e apresenta uma atmosfera muito fina de dióxido de carbono, calotas polares de gelo e neve carbónica e um sistema meteorológico muito ativo.

Esta aventura de realizar uma viagem a Marte divide-se em dois semi-projetos: primeiro fazer orbitar seres humanos em torno de Marte e em segundo lugar colocar seres humanos na superfície de Marte e construir uma colónia no planeta. Deixando de lado o segundo, porque se trata de objetivo que, se tudo correr e sem sobressaltos, ocorrerá depois da década de 40 deste século, foquemos a atenção no primeiro.

A viagem a Marte tem problemas de um complexidade extrema, a nível tecnológico e para o organismo humano, devido à ausência de gravidade e à exposição prolongada à radiação solar. Ainda que em Hollywood os filmes retratem uma realidade muito distinta, o organismo humano sofre bastante com a permanência prolongada no espaço. Quando falamos de uma permanência prolongada no espaço devemos ter em conta que uma viagem a Marte nunca demoraria menos de 3 anos, dos quais cerca de 500 dias seriam no planeta vermelho, uma vez que as oportunidades de viajar até Marte surgem a cada dois anos, aproximadamente, devido à posição do planeta relativamente à Terra e ao Sol.

A exposição do corpo humano à gravidade zero reflete-se nos ossos, com a perda de 1% de massa óssea por mês. A visão também é afetada, aparentemente porque o líquido retido no cérebro pressiona os seus globos oculares. Ora, num cenário como este, os astronautas que pousassem em Marte iriam ter um visão desfocada e ossos quebradiços. Também a radiação representa um perigo, uma vez que durante a viagem os astronautas estariam vulneráveis à radiação proveniente das erupções solares e dos raios cósmicos. Estes últimos podem danificar o ADN e as células cerebrais, o que pode significar que os astronautas podem chegar a Marte menos inteligentes. Por outro lado, a permanência num espaço confinado, como seria a nave, durante um período tão longo poderá trazer problemas comportamentais que não se encontram totalmente estudados.

Por mais complexo e difícil que seja este desafio, cabe a esta geração honrar gerações de navegadores, de exploradores e de astronautas que com o seu empenho, arte, dedicação e sacrifício deram a conhecer novos mundos.

Por: António Costa

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