Caros leitores, como é por todos sabido vivemos dias estranhos na política nacional. Hoje começo esta crónica política com algumas citações facilmente pesquisáveis na Internet caso alguém tenha dúvidas sobre a sua veracidade ou o autor das mesmas.
Projeto de Resolução apresentado pelo PSD na Assembleia da República a 23 de Março:
“Os resultados que se atingiram tiveram o condão de se fundar ou no sacrifício das pessoas e das empresas – suportado pelo aumento asfixiante da carga fiscal – ou no recurso a receitas extraordinárias.”
“Mantém a receita preferida deste Governo: a solução da incompetência. Ou seja, se falta dinheiro, aumentam-se os impostos.”
Correio da Manhã de 24 de Março:
“…o líder dos sociais-democratas vai afirmar no programa eleitoral… pretende também compensar estas verbas perdidas na redução do défice com um aumento do IVA para 24% ou 25%.”
Entrevista à Reuters em 26 de Março
“Em entrevista à Reuters, o líder ‘laranja’, afirmou este sábado: “Julgo que precisaremos abrir o capital da Caixa a privados também”.”
“No capítulo das privatizações, Passos Coelho dá ainda exemplos também no transporte rodoviário, ferroviário, Águas de Portugal e até a TAP…”
Às citações acima apresentadas poderiam juntar-se as declarações proferidas depois do puxão de orelhas da Sra. Merkel, onde o líder do PSD rapidamente veio dizer que as medidas que estavam a ser implementadas eram para continuar.
Resumindo:
– o PSD acha que o Governo não tem condições para governar porque temos uma “asfixiante carga fiscal”, a solução apresentada, aumentar o IVA para 24 ou 25 %. O mais injusto dos impostos porque atinge todos por igual;
– o PSD considera “solução da incompetência” o recurso ao aumento de impostos, no entanto já vêm anunciar que, se por acaso, chegarem ao Governo esse é o caminho a seguir;
– o PSD acha que o Governo não tem condições para governar porque recorre a receitas extraordinárias, a proposta apresentada é privatizar tudo e mais alguma coisa, inclusive o Banco do Estado;
Até pode ser má vontade minha, mas parece-me que temos aqui grandes contradições, mesmo sabendo que, se vierem a ser Governo, vão andar pelo menos um ano a dizer que a culpa foi de quem lá esteve antes.
A realidade é que Passos Coelho foi confrontado pelos seus pares, “ou temos eleições legislativas ou eleições internas”. A pretensa falta de “sede de ir ao pote” de Passos Coelho, contrastou com a imensa “sede de ir ao pote” de quem gravita à sua volta.
Infelizmente, o timing foi o mais inconveniente, penso mesmo que dificilmente se poderia encontrar pior altura para esta trapalhada política. Nas vésperas de uma Cimeira Europeia onde se discutiam medidas importantíssimas para Portugal, que foram todas elas adiadas em consequência do sucedido. Nas vésperas de Portugal voltar a colocar dívida no mercado, e consequentemente, os juros voltaram a bater recordes insuportáveis. Se não bastasse, como consequências, todas as agências de rating voltaram a penalizar Portugal e deixando o país ainda mais fragilizado.
No entanto, ainda falta realçar um facto, simples mas de consequências perversas para o país, a entrada do FMI. Quando um significativo número de pessoas, tecnicamente capazes, alerta para as consequências dessa intervenção, o PSD e o seu líder insistem na mesma única e simplesmente por um motivo: a falta de coragem de tomar medidas impopulares! O FMI, se vier, irá somente servir de escudo do PSD para as medidas de rigor e austeridade que têm sido tomadas e que não têm coragem de tomar ou de continuar a pôr em prática.
Este vale tudo em que se transformou a política em Portugal tem que ter um fim. Quando e como não sei, mas antevejo um futuro sombrio, independentemente de quem governe se não se alterarem os comportamentos.
Por: Nuno Almeida *
* Presidente da concelhia da Guarda do PS