Morrem as penas brancas, tombando do último voo, chovendo por isso nos transeuntes incrédulos. “Chovem penas” diz um, “chovem castigos” diz o amigo, “decompõem-se a canção do Cisne sobre nós” diz outro com Schubert na memória. O Cisne percorre o céu planando em direção ao sul e canta. “Dizem que cantam no dia da morte” diz o primeiro transeunte fixando o voo. “Olha as penas que deixa” diz o amante de Schubert assobiando os trechos dos sopros. O cisne plana lento e cai no chão, no meio de um campo de milho. Vamos lá ver? Diz o primeiro.
– Dizem que antes da morte emite um cântico único. Também podemos enterrar o animal. – Acrescentou.
“Choviam penas, choviam castigos, choviam pecados” cantarolou o segundo.
Aproximaram-se em silêncio e assim ouviram a canção que vinha do milho. Um choro triste, um trinado de uma guitarra, uma cadência de Fado e uma letra de gente. «Era o amor/ que chegava e partia/ estamos os dois/ era o calor/ que arrefecia/ sem antes nem depois./ era o segredo/ sem ninguém para ouvir/ era o engano/ e era o medo/ a morte a rir/ dos nossos verdes anos/ no nosso sangue corria/ o (um?) vento de sermos sós/ Mas se à noite era dia/ e o dia acabava em nós» (“Verdes Anos”, Luis Marques da Silva).
O canto do Cisne no meio do prado verde, a marcar os nossos verdes anos. Um Cisne morto, depenado, um pássaro enorme, vivido, depoimento de muitos dias, tombado. “Jaz morto e apodrece”. Os três amigos enterraram o pássaro e saíram em silêncio. Na placa do Cisne puseram-lhe um letreiro – Portugal!
Por: Diogo Cabrita