O Caçador está de volta, mas não traz a Branca de Neve. “O Caçador e a Rainha do Gelo” (2016) recupera o passado da heróica personagem de Chris Hemsworth, que volta a ser acompanhado por Charlize Theron e conta com Emily Blunt e Jessica Chastain. “O Caçador”, que venceu (será?) Ravenna em “A Branca de Neve e o Caçador” (2012), tem de enfrentar a sua temível irmã, a Rainha do Gelo, interpretada por Emily Blunt, na aventura que se segue. Depois de querer abandonar tudo por amor e de ver o seu coração desfeito, Freya abandona, no passado, Ravenna e procura o seu próprio poder.
No entanto, tudo muda e, em instantes, TUDO muda. A aparente prequela avança no tempo e ali estamos, em pleno reinado da Branca de Neve. A agora rainha está à beira da loucura graças ao espelho, “herança” de Ravenna, e, quando os seus soldados não conseguem levar este para longe, o rei William recorre ao Caçador. Na companhia de dois improváveis anões, Eric parte rumo a uma aventura inesperada. É possível fazer um filme do universo da Branca de Neve… sem falar da Branca de Neve? “O Caçador e a Rainha do Gelo” (2016) apresenta várias falhas, desde logo o facto de não cumprir o que “promete”: a acção não decorre exclusivamente no passado e o enredo, em pelo reinado da Branca de Neve, não disfarça a ausência evidente da mesma.
A riqueza do primeiro filme parece ter-se perdido entretanto. O engenho dos vilões e a coragem dos heróis foi substituída pela inevitabilidade de o Bem vencer o Mal, ao mesmo tempo que a storyline simples e expectável é acompanhada de acções heróicas e twists que já vimos antes. Sendo uma prequela-sequela, ficamos com a clara sensação de a equipa por detrás da (agora) saga tentou reciclar as ideias que tinha (para a sequela da Branca de Neve) e aplicá-las no Caçador. A tragicidade de “O Caçador e a Rainha do Gelo” (2016) começa nos bastidores. Kristen Stewart e Rupert Sanders, a Branca de Neve e o realizador do filme de 2012, saíram do projecto e, embora os produtores o neguem, poucos duvidam que a sua ausência não esteja relacionada com o romance que mantiveram numa altura em que estavam ambos comprometidos.
Mais do que a ausência da personagem, nota-se sobretudo o corte evidente da ligação da Branca de Neve com as restantes personagens, sendo que no filme anterior ela contribuiu em larga escala para o crescimento das mesmas. É uma pena que, quatro anos depois, nem Charlize tenha a capacidade de nos fazer acreditar em contos de fadas ou na imensidão de obstáculos de que o imaginário Disney também é feito.
Sara Quelhas*
*Mestre em Estudos Fílmicos pela Universidade de Coimbra
**Originalmente publicado em fb.com/ultimasessao.cinema