Mais segurança é o que todos os comerciantes e moradores, maioritariamente idosos, pedem ao “anjo da guarda” da pacata e abandonada zona histórica da Guarda. Ao longo dos quase dois meses em que está destacado para o programa “Polícia de Proximidade”, o agente Carvalho, de 40 anos, 18 dos quais passados na PSP, já registou dezenas de preocupações, principalmente de idosos que se sentem sozinhos e inseguros.
O agente reconhece ser já conhecido por muitas pessoas como “o polícia da minha rua” e que lhe pedem sempre que haja «mais segurança e que passe mais vezes». Naquela zona onde a solidão anda de “braço dado” com os inúmeros idosos que por ali deambulam ao longo do dia, a necessidade de conversar é notória em cada olhar triste e distante com que nos cruzamos. Muitos vêm neste agente da autoridade um amigo que se preocupa com eles e com quem podem trocar, por alguns instantes, breves palavras. «Há muitos idosos que me encontram na rua e metem conversa só para desabafar, pois não têm ninguém com quem falar», refere. Durante o giro, que começa na Misericórdia, abrange toda a zona de São Vicente e termina na Rua 31 de Janeiro, este polícia tem como missão obter o maior número de informações possíveis para a PSP intervir activamente na segurança daquela zona da cidade. Nesse sentido, procura estar sempre atento e contactar com comerciantes, jovens, idosos, residentes e, eventualmente, turistas, de forma a que o vejam como alguém em quem podem confiar. É o caso de Fernando Godinho, um já antigo comerciante da Rua Direita, que quase diariamente recebe a visita do agente Carvalho.
Entra-se na loja e um simpático “bom dia” e um caloroso aperto de mão é o primeiro passo para uma conversa que se adivinha demorada entre estes conhecidos de longa data. É notória a tranquilidade transmitida pelo agente ao comerciante de 70 anos, que, sem demoras, diz o que pensa do polícia: «Acho que escolheram a pessoa certa para o lugar certo», garante. Esta nova iniciativa da PSP parece agradar a Fernando Godinho, que muitas vezes teme pela sua segurança. «A polícia anda aqui ao pé de nós e desta forma põe-nos mais à vontade. Assim, sempre há alguém que olhe por nós», diz. O comerciante considera ainda que é importante colaborar com a polícia para que haja mais segurança, pois «se todos ajudarem, tudo corre melhor». Contudo, lamenta que a mesma ronda não se faça à noite. «A partir das 3 horas sai muita gente dos bares e, nessa altura, também é preciso haver polícia nas ruas, até mais do que de dia», acredita. Fernando Godinho foi um dos poucos comerciantes que aceitou falar com “O Interior” sobre os seus receios, «já que as pessoas têm medo de futuras represálias», esclarece o responsável pelos agentes deste programa. Contudo, o chefe Vítor Rodão assegura que todas as denúncias e queixas são «absolutamente anónimas», pelo que nada há a recear.
Casas devolutas e toxicodependentes preocupam idosos
A maior preocupação de moradores e utilizadores do centro histórico, registada pelo agente Carvalho, é o ajuntamento nocturno de toxicodependentes. «O facto de andarem em grupo causa uma certa instabilidade e receio nas pessoas», acrescenta Vítor Rodão. São sobretudo os idosos quem mais teme esta situação, pelo que são também eles que mais procuram e mais informam os agentes para que o policiamento seja direccionado para as zonas em causa. Outra das constantes preocupações dos moradores de São Vicente têm sido as casas devolutas, já que em muitas delas costumam abrigar-se toxicodependentes, para além de estarem em risco de ruir. «As pessoas têm medo que haja algum incêndio, temem pela sua integridade física e pelos seus bens pessoais», refere o agente Carvalho que já assinalou, só naquela zona, 16 casas «em péssimo estado». Segundo Vítor Rodão, com esta iniciativa houve um decréscimo dos pequenos delitos, nomeadamente de pequeno tráfico, devido à presença constante do agente Carvalho na zona.
«Este programa pretende criar um elo de confiança, fazendo do agente o interlocutor entre a população e a polícia, para que no futuro as pessoas não tenham problemas em dirigir-se ao polícia e prestar ou solicitar informação, o que antes era difícil de acontecer», garante. Denota, contudo, que ainda levará algum tempo para as pessoas se habituarem a essa ideia, embora acredite que «assim que tiverem a noção de que têm ali uma pessoa a quem podem expor os seus problemas, será mais fácil fazer a análise e melhorar o serviço». Na Guarda, o programa está a ser posto em prática no centro histórico, na Póvoa do Mileu e na zona da Estação.
Tânia Santos