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O 11 de Setembro em directo

Mediateca VIII Centenário apresenta esta noite um documentário inédito em Portugal sobre o ataque suicida às Torres Gémeas de Nova Iorque

Há dois anos atrás, o destino cruzou-se nas ruas de Nova Iorque com os irmãos Naudet, dois desconhecidos operadores de câmara franceses, e escolheu-os para testemunhas privilegiadas de uma impressionante e aterradora tragédia. No local certo à hora certa, Jules e Gédéon assistiram, de câmara ao ombro, ao fim da inocência com o atentado nas Torres Gémeas do Nova Iorque. O relato do dia que mudou o mundo é a proposta da Mediateca VIII Centenário, na Guarda, para evocar hoje à noite o cataclismo do World Trade Center, que vitimou milhares de pessoas, com um documentário reportagem choque, inédito em Portugal, intitulado “9/11”.

Dois anos depois, as imagens do terror, algumas delas inéditas, continuam a paralisar plateias e telespectadores, fazendo partilhar a interrogação e incredulidade que vemos desfilar nos rostos dos nova-iorquinos que se cruzam com as câmaras de Jules e Gédéon Naudet. O objectivo deste documentário de duas horas não é explicar por que é que tudo aconteceu, mas servir antes de testemunho em tempo real dos acontecimentos durante e após o ataque suicida. O filme é abundante em depoimentos de bombeiros – os heróis de “9/11” -, de homens e mulheres de semblantes perdidos e apreensivos, partilhando todos um único sentimento: o medo. Contudo, a sua mais-valia reside sobretudo na revelação inédita de todos os momentos de terror vividos por dentro das torres, os salvamentos, a batalha desigual dos bombeiros, a destruição, a solidariedade e coragem dos bombeiros e a dimensão da tragédia no seu todo. Tem imagens impressionantes do interior do World Trade Center na altura do segundo embate e do desabamento da torre Sul, sem esquecer a imagem que deu a volta ao mundo do primeiro choque, às 8h45, na torre Norte visto a partir da rua. Mas também o seu desmoronamento filmado a poucos metros de distância e o consequente turbilhão de poeira, bem como as imagens exclusivas do interior dos túneis do metro e das lojas comerciais no subsolo dos prédios por altura das primeiras acções de socorro.

Uma cartada do destino, pois Jules Naudet encontrava-se nesse mesmo edifício momentos antes do primeiro embate e só desceu à rua para filmar uma simples intervenção dos bombeiros numa fuga de gás. Circunstância anódina que mudou para sempre o curso da sua vida e assinalou o princípio do caos em Nova Iorque e no mundo. É dele a imagem do Boeing 767 a esmagar-se contra a torre Norte, mas só então a história tinha começado a cobrar dos irmãos Naudet. Jules e Gédéon reencontram-se no World Trade Center e dão início, acompanhando os bombeiros de Nova Iorque, a cinco horas de filmagens sem entraves. Os dois jornalistas por lá continuam aquando do segundo embate na torre Sul, 18 minutos depois. Altura em que a situação ganha contornos catastróficos, uma vez que mais de 260 bombeiros morrem diante das suas câmaras. Ambos estão no primeiro balcão da tragédia e assistem à intervenção dos primeiros socorros, mas nessa primeira noite de pesadelo serão os agentes do FBI a cobrar-lhes o “bilhete” reclamando os registos vídeo dos acontecimentos, embora autorizem uma única cópia das imagens do impacto. Mais tarde, um excerto é vendido à agência noticiosa Gamma, que o divulgou imediatamente pelas televisões de todo o mundo. Seis meses depois do atentado, a cadeia norte-americana CBS exibiu o documentário integral dos Naudet para uma audiência de 40 milhões de telespectadores. O conceituado “New York Times” escreveu a propósito de “9/11” trata-se de uma «extraordinária visão da história no momento real em que aconteceu». Para Victor Afonso, coordenador da Mediateca guardense, «tratando-se de um documentário americano sobre uma tragédia americana, haverá sempre alguma exploração abusiva do sentimentalismo patriótico, a exaltação do heroísmo, mas nada que comprometa este documentário como um retrato fiel dos acontecimentos históricos de 11 de Setembro de 2001». A sessão tem entrada livre.

Luis Martins

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