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Nuvens

Adensam-se ao longe, bem visíveis no Horizonte, pesadas e grossas nuvens. Os sinais são obviamente de mau agoiro. Pena é que não chova.

Aguarda-se o programa de governo. Com as eleições autárquicas marcadas para o final do ano, haverá já muita gente a pensar nas propostas a apresentar. Problemas para resolver, há muitos. Por exemplo:

1. A água. Não há plano hidrológico nacional e somos reféns do plano dos espanhóis. No dia em que resolverem implementá-lo a sério, passaremos a ser uma extensão do deserto do Sahara. É urgente investir em formas de guardar e rentabilizar a pouca água que o céu nos dá.

2. A energia. O petróleo vai acabar e não é previsível a descoberta de grandes jazidas em Portugal. Em contrapartida, temos sol, vento, mar. E urânio… A sociedade consome cada vez mais energia e finge que as actuais fontes não vão acabar nunca. O segredo aqui, como em quase tudo, reside em perceber antes dos outros a chegada dos problemas.

3. A demografia. Não nascem crianças. Em 2004, pela primeira vez na nossa história recente, o número de óbitos foi superior ao dos nascimentos. Há muitas explicações para o facto, como por exemplo a do crescente egoísmo da nossa sociedade e dos nossos jovens, incapazes de abdicar de um pouco das suas comodidades em troca do cumprimento de um dever: procriar um filho. A verdade pode ser menos moralista e residir em algo tão comezinho como isto: não há dinheiro para criar filhos. Agora, são os dois membros do casal obrigados a trabalhar, se quiserem garantir o sustento. Solução? Por exemplo aumentar o abono de família em termos que permitam a um casal ter filhos sem se arruinar. Toda a sociedade acabará por beneficiar com isso.

4. A Segurança Social. Se gastamos o capital acumulado da segurança social para cobrir o défice, se as contribuições dos activos mal chegam para cobrir os gastos correntes do sistema, então estamos a atingir o ponto de rotura (décadas antes do ponto de crise previsto para os Estados Unidos). Solução? Há que resolver primeiro o problema demográfico.

5. A China. A nossa indústria têxtil tem os dias contados. O calçado também. As célebres cláusulas de salvaguarda de pouco servem e, já agora, não escondem o mais importante: mais de um bilião de consumidores à espera da tecnologia europeia. E como vai ser quando a China descobrir que é uma super-potência?

PS: Parabéns a Maria do Carmo Borges pela forma elegante como saiu de cena. Deveria servir de exemplo para muitos outros, mas ser uma Senhora não é para toda a gente.

Por: António Ferreira

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