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«Nunca deixámos de acreditar que era possível fazer teatro na Covilhã, e da Covilhã para o mundo»

Cara a Cara – Sérgio Novo

P- Como resume estes 15 anos?

R- Pergunta difícil, são sobretudo 15 anos de muita luta. Não que isso seja mau, pois foram vividos a pleno. Apesar das dificuldades, e de sacrifícios pessoais, nunca deixámos de acreditar que era possível fazer Teatro na Covilhã, e da Covilhã para o mundo. Podemos orgulhar-nos de já termos apresentado os nossos trabalhos em quase todos os distritos de Portugal, e termos estado em oito países de quatro continentes, contando com 124.371 espetadores nas nossas produções, 48.469 espetadores nos festivais e com 23.000 exemplares em material editado (fanzines, livros, cd’s – dormitório, Teatro Virtual e Cruciform Theatre). O nosso trabalho tem sido reconhecido e premiado por várias entidades e júris de festivais em Portugal e no estrangeiro. Só este ano já fomos distinguidos três vezes em Espanha.

P- Quais os principais objetivos da ASTA?

R- A ASTA assume como missão promover a Cultura a nível nacional e internacional, através das artes performativas, sem esquecer o envolvimento da sociedade e o cariz social que as artes aportam, principalmente a área do teatro. Como objectivos, assumem-se a consolidação da estrutura no seu posicionamento e na sua capacidade interventiva ao nível da criação própria e programação autónoma, bem como a sua capacidade de produção em rede de parcerias. A promoção das artes na região, através do intercâmbio cultural entre estruturas, espaços e públicos, o recurso à criação própria e a promoção da qualificação profissional de artistas em regime de parceria ou residência e o surgimento de novos dramaturgos e novas dramaturgias, são outros objetivos.

P- Que trabalhos têm procurado desenvolver ao longo dos anos?

R- Em 2000 a ASTA surgiu em resposta à necessidade de ocupar um espaço cultural que na cidade e na região não encontrava resposta, tornando-se assim a segunda companhia profissional do distrito. Desde sempre procurou a singularidade na criação com experimentação de métodos e linguagens, reinventando clássicos, criando novas representações e atividades culturais que envolvessem diretamente a comunidade. Assumindo uma oferta diversificada, a ASTA produz criações próprias, organiza festivais (Contradança, Ciclo de Teatro e a ensinARTE _ Mostra de Teatro Escolar) e tem um serviço educativo.

P- Quais são os próximos projetos?

R- Este mês vamos participar no maior festival de teatro de rua que se realiza em Portugal, o Imaginarius, em Santa Maria da Feira, e que é um dos maiores certames da Europa. Vamos também realizar a quinta edição da ensinARTE. A ASTA apresentou no início do ano uma candidatura à Direção-Geral das Artes para o biénio 2015/16 e aguardamos a divulgação dos resultados. Projetos não faltam, novas criações também, mas alguns continuam na gaveta por falta de financiamento.

P- Que dificuldades enfrentam?

R- Uma das grandes dificuldades é a falta de um espaço próprio onde possamos desenvolver as nossas actividades e apostar noutras, como residências para acolhimento de artistas, exposições, instalações, uma escola de teatro, entre outras. O espaço de que dispomos é alugado e é essencialmente uma área administrativa e de arrumação, mas cada vez mais lotado. É alugado e pago por nós desde o início e não é fácil pagar renda quando o dinheiro não abunda, nem os demais gastos de manutenção. Apesar da Covilhã ser uma cidade cheia de espaços devolutos, os proprietários preferem vê-los desmoronar-se a cedê-los às instituições que trabalham em prol da comunidade e que, utilizando-os, os podiam recuperar. Outra dificuldade, e talvez a maior, é a falta de financiamento. A não existência de uma política cultural, ou planos municipais de cultura, põe em causa a continuidade dos agentes culturais. Não se trata de “apoios”, mas sim de um “pagamento” por serviços desenvolvidos para a comunidade. A cultura é o motor que pode colocar uma cidade no mapa, gera receitas, cria postos de trabalho e promove de forma direta a economia regional.

P- É difícil trabalhar numa região com várias companhias de teatro? Como se faz para sobreviver?

R- Não, o monopólio sim seria um péssimo cenário. A diversidade é de louvar. Cada companhia tem bem definida a sua linha estética e de trabalho. Há públicos para todos. O que deveria acontecer é uma maior articulação entre as mesmas. Ganharíamos todos com isso, na sensibilização e formação de públicos, na partilha de experiências e conhecimentos e sobretudo na rentabilização de recursos. Qualquer autarquia se deve regozijar por ter várias companhias profissionais na sua cidade.

P- Ao longo destes 15 anos alguma vez esteve em causa a continuidade da companhia?

R- Várias vezes, sabe Deus como ainda aqui estamos! Neste momento a questão está de novo em cima da mesa. A equipa de profissionais da ASTA era constituída por dez pessoas no biénio 2013/14, hoje são duas e estão com salários em atraso desde janeiro, inclusive. Isto porque várias instituições nos devem dinheiro! À parte disso, não há respostas sobre apoios para a continuidade das nossas actividades. As coisas têm um custo e os profissionais também necessitam de um ordenado para viver. Vamos aguentar até ser possível.

P- Como vê a atividade cultural na região? Acha que houve uma evolução ao longo destes 15 anos?

R – Sim, tanto na quantidade como na qualidade, embora estes não sejam sinónimos. Existem muitas actividades culturais, de caráter profissional e amador, no entanto, a região é bastante extensa pelo que há muitas assimetrias culturais. Tanto na Guarda, Fundão ou Castelo Branco, a programação cultural é realizada maioritariamente pela autarquia, ao passo que na Covilhã é realizada pelos agentes culturais.

Sérgio Novo

Comentários dos nossos leitores
margarida pereira mmtpereira@hotmail.com.com
Comentário:
É de louvar a dedicação o esforço e amor que estes dirigentes dedicam à ASTA e por sua vez à cultura.
 
cesar valcesarlejo@gmail.com
Comentário:
Apenas para felicitar pelo bom trabalho que têm envolvido. Votos de sucesso para as próximas atividades.
 

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