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Novos tempos; ideias velhas

Editorial

1. Os candidatos à liderança do PSD, Pedro Santana Lopes e Rui Rio, voltaram a passar pela região na longa e penosa campanha para as eleições do partido.

Depois de um tempo difícil, o tempo da austeridade e da Troika, assumido por Passos Coelho como uma missão, esperava-se a renovação do maior partido da oposição, mas não, os dois candidatos são dois “velhos” conhecidos dos portugueses – e o problema não é geracional ou da idade, é de percurso, de ideias caducas e de incapacidade para liderar uma mudança e afirmar um modelo de oposição (por isso não se discutem ideias ou projetos, mas apenas o acessório, o estilo e arrufos).

Pedro Santana Lopes foi primeiro-ministro há mais de dez anos, saindo então pela porta pequena da governação e contribuindo sobremaneira para a primeira maioria de José Sócrates. Será estranho voltar a vê-lo como candidato a primeiro-ministro, ziguezagueando como sempre, quando o país tanto precisa de uma oposição assertiva e galvanizadora – com ele a liderar a oposição, António Costa poderá dormir descansado. Quanto a Rui Rio, mais pragmático e afirmativo, depois da Câmara do Porto e de ter tentado a candidatura à Presidência, continua sem apontar o caminho que defende para o país, mas assumindo o óbvio: o PSD só voltará ao poder se recuperar o eleitorado de centro e para isso não pode ser tão liberal e de direita como defende o seu opositor. A matriz identitária do PSD, de partido reformador, da justiça e bem-estar social, da regulação económica, igualitário, da livre-concorrência,…, anda, estranhamente, afastada do discurso dos candidatos.

As “diretas” nos partidos não vieram para ficar, porque o que se ganha em proximidade aos militantes perde-se em disparate discursivo durante meses, em despautério e ataque ao colega de partido e no vácuo de não dizer nada de interessante para o país. E ainda na desvalorização do impacto, vivência e estado emocional dos congressos – e os partidos também vivem desse frenesim e dessa espiritualidade, em que mais do que a razão decide o coração. Assim, é provável que o PSD (como os demais partidos) reconsidere esta peregrinação das “diretas” em que se fala demasiado para “dentro”, pouco “para fora” e nada se discute de relevante para o futuro do país.

2. Segundo dados da OCDE, com uma média de 81,2 anos Portugal é o quinto país do mundo com mais esperança de vida ao nascer (numa tabela liderada pelo Japão, com uma esperança de vida de 83,9 anos, seguido por Espanha, França e Suécia). As altas taxas de esperança de vida, associadas à baixa taxa natalidade, colocam Portugal entre os países com uma projeção de envelhecimento das mais altas do mundo. A extraordinária melhoria das condições de vida dos portugueses, nomeadamente em termos higieno-sanitários, cuidados médicos e de alimentação, permitiram que a esperança de vida passasse dos 67 anos em 1975 para os 81,2 de 2015 – o tempo novo de Portugal também passa por sermos um dos países com mais longevidade do mundo.

Num tempo em que somos constantemente bombardeados com campanhas contra os maus hábitos alimentares, não deixa de ser curioso observar este sucesso português. Ou ver que Espanha, com hábitos alimentares considerados como nefastos, tem a segunda maior esperança de vida do mundo com 83 anos. O estudo da OCDE confirma também que a dieta mediterrânica é muito mais saudável do que outras importadas. E é bom verificar, em especial neste período, que Portugal não está entre os maiores consumidores de tabaco, álcool ou com maior contaminação do ar ou índices mais elevados de obesidade.

Neste período de festas, podemos continuar a comer os nossos ricos e gordurosos manjares…

Feliz Natal.

Luis Baptista-Martins

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