Arquivo

Novo prazo para a Nova Penteação

Aníbal Ramos, antigo administrador da empresa, surpreendeu credores na última assembleia com uma proposta de viabilização

A incerteza continua a dominar o futuro da Nova Penteação. Depois de terem chumbado a proposta do empresário Paulo de Oliveira, os credores da Nova Penteação foram surpreendidos na última segunda-feira com uma nova proposta de viabilização da empresa de lanifícios da Covilhã. Facto que levou ao adiamento da votação na última assembleia de credores para o próximo dia 28 de Agosto, ainda para mais quando estará na “calha” uma outra proposta de uma terceira entidade. Aníbal Ramos, que comandou os destinos da “Nova” durante 29 anos, propôs a aquisição de todos os imóveis, terrenos, matérias-primas, móveis, veículos, direitos e máquinas da empresa por trespasse num montante de 2,89 milhões de euros, comprometendo-se a pagar as dívidas ao Estado (de 154 mil euros), à Segurança Social (de 1,97 milhões de euros) e a saldar 2,86 milhões de euros do débito aos restantes credores, incluindo o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI), num total de cinco milhões de euros. Entidade que, de resto, possui, a par da Segurança Social e do Banco Totta, um papel crucial na recuperação da Nova Penteação. No entanto, e à semelhança da ressalva de Paulo de Oliveira, a proposta do antigo administrador da Nova Penteação fica «sempre condicionada ao acordo parassocial com os trabalhadores» da empresa e a uma «eventual intervenção do Estado quanto à solução da remuneração dos trabalhadores excedentários», explica no documento. É que, caso a proposta seja aceite, Aníbal Ramos garante manter apenas os 160 funcionários em «exercício efectivo das suas funções», embora alguns possam «ser substituídos por outros que se julguem mais aptos para as suas funções». Contudo, «numa lógica futura», o ex-administrador da “Nova” está disponível para admitir «progressivamente», entre 2004 e 2006, mais 150 trabalhadores, conforme o aumento da produção. Quanto ao futuro dos restantes 300 trabalhadores que se encontram a frequentar acções de formação, no âmbito de Programa FACE do Plano de Intervenção para a Beira Interior (PIBI), ele será «equacionado com as entidades públicas». O mesmo acontece com os salários em atraso e futuros salários a vencer dos trabalhadores excedentários, encargos para os quais vai ter que ser encontrada «uma via de solução», caso contrário estar-se-á a «inviabilizar de novo» a Nova Penteação.

Proposta é «menos credível»

Nesta assembleia, os credores ficaram também a saber que Paulo de Oliveira pondera a possibilidade de reformular a sua proposta. Uma decisão que só acontecerá após analisar a proposta [de Aníbal Ramos] e «os prejuízos que mais um adiamento pode provocar nos negócios da Nova Penteação», adverte. O empresário não está disposto a perder seis meses de trabalho enquanto se arrasta a decisão em torno viabilização da empresa, cujas assembleias de credores têm sido suspensas e adiadas nos últimos dois meses, e com isto perder «centenas de milhares de contos». «Uma empresa daquelas representa milhares de contos», esclarece Paulo de Oliveira, pelo que seria essencial que a Nova Penteação participasse já nas próximas feiras internacionais de tecido para angariar carteira de encomendas. O proprietário da “Penteadora” e da “Paulo de Oliveira, S.A” considera a proposta de Aníbal Ramos «menos credível» que a apresentada pelo seu grupo. «Nós temos dado provas ultimamente, pois somos uma empresa dinâmica, rentável e um grupo com capacidade», sublinha o empresário, recordando que a empresa estava «em declínio» na fase final da administração de Aníbal Ramos, que terminou em 1999.

Caso reformule a sua proposta para a submeter no próximo dia 28 de Agosto à votação dos credores, Paulo de Oliveira adianta desde já que será «mais realista e sujeita a um estudo mais profundo do que dizer que ficam os trabalhadores que lá estão», avisa, até porque «o mais lógico» seria aproveitar alguns dos operários que estão em formação no FACE. Mais crítico está o Sindicato Têxtil da Beira Baixa (STBB), que à porta do Tribunal da Covilhã após a assembleia de credores, pediu celeridade na resolução do caso da Nova Penteação. «É desejável que haja uma solução rápida para a empresa» advertiu Luís Garra, presidente do STBB, lembrando que a situação da empresa está a degradar-se à medida que «o tempo escasseia». Sem querer pronunciar-se em concreto sobre as propostas apresentadas, o sindicalista alerta de novo os interessados que «não vale a pena dizerem que a proposta fica condicionada a acordo com os trabalhadores», porque a «única coisa em negociação é a fase de transição entre a aquisição e a normal laboração da empresa», sublinha, voltando a lembrar que os direitos dos trabalhadores, como o vínculo laboral, a antiguidade e os postos de trabalho, «não estão em negociação». Uma reunião para analisar as propostas de viabilização foi já marcada para a manhã da próxima segunda-feira, enquanto os funcionários da Nova Penteação deverão reunir-se em plenário no dia 28, data da próxima assembleia de credores, seguindo depois para o tribunal.

Liliana Correia

Sobre o autor

Leave a Reply