Contra todas as expectativas, os cerca de 200 trabalhadores da Gartêxtil decidiram na passada quarta-feira adiar para 25 de Abril o pedido de falência da empresa, encerrada desde Maio de 2002, devido ao aparecimento de interessados na aquisição da fábrica têxtil. A decisão foi tomada no último plenário, após o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sector Têxtil da Beira Alta (STBA), Carlos João, ter revelado que na sexta-feira anterior tinha sido apresentada uma proposta de compra da empresa e de reabertura da unidade da Guarda-Gare.
O sindicalista escusou-se a revelar quem são os interessados, referindo apenas que «são pessoas jovens, com conhecimentos do ramo têxtil e que demonstraram algum interesse em reabrir a empresa». E adiantou que o sindicato vai «apoiar com todas as forças ao seu dispor esta intenção de reactivação», esperando, por outro lado, que o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI) apoie a iniciativa agora apresentada. Contudo, do próximo plenário de trabalhadores da Gartêxtil, agendado para 25 de Abril, poderá resultar o anúncio do «encerramento definitivo» da fábrica, avisa Carlos João, se estes contactos e o interesse em retomar a empresa de confecção não conhecerem «passos significativos e concretos». O IAPMEI recusou recentemente viabilizar a proposta de recuperação da empresa apresentada por Francisco Cabral, administrador da Carveste, empresa-mãe, por ter exigido um financiamento a cem por cento em vez dos 50 por cento disponibilizados por aquele instituto para financiar o plano apresentado. Por outro lado, as trabalhadoras não tencionam desistir de apurar o que se passou na empresa para que tenha fechado ao fim de quatro anos após injecção de 370 mil contos de apoios, atribuídos pelo IAPMEI, e de um processo de recuperação durante o qual o seu passivo foi drasticamente reduzido e com prazos de pagamento a longo prazo (10 anos), tendo os trabalhadores abdicado de 90 por cento das suas remunerações em atraso.
A intervenção do Ministério Público já foi solicitada pelo Sindicato dos Têxteis da Beira Alta. Entretanto, o ministro da Economia garantiu na semana passada na Guarda que o seu gabinete está a apurar as condições em que decorreu o fecho da fábrica e se os administradores da Gartêxtil cumpriram a lei e os compromissos contratuais assumidos em 1998, aquando da sua aquisição pela Carveste. «Todos os dinheiros atribuídos são-no com base em determinados compromissos e se não houver cumprimento serão retiradas consequências que constam naturalmente dos contratos», disse Carlos Tavares à margem da sessão de apresentação do PRASD. «Temos feito tudo para defender as empresas que estão em dificuldade sempre que isso faz sentido, como foi o caso da Bawo, Gary Weber ou da Nova Penteação, que tiveram uma solução que permitiu salvar uma parte do emprego. Só não fazemos aquilo que não é possível», avisou o governante, para quem a Gartêxtil é um caso de modelos empresariais que foram prósperos em determinada altura e que perderam a competição a nível global. E foi mais longe, admitindo que no caso da fábrica da Guarda-Gare se tenha cometido «o erro de tentar manter um modelo do passado e, como se vê, quando se procura dar mais dinheiro para manter aquilo que existe sem compreender a evolução, normalmente o dinheiro é perdido. É isso que queremos evitar», conclui o ministro.
Luis Martins