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Nova esperança para a vaca jarmelista

Estudo da Direcção-Geral de Veterinária permitiu identificar 63 fêmeas e dois machos

A vaca jarmelista ganhou um novo alento no último domingo durante a XXIIª Feira-Concurso do Jarmelo que, mais uma vez, atraiu um mar de gente. O primeiro estudo morfológico da espécie, que corre riscos de ficar em vias de extinção, elaborado pela Direcção-Geral de Veterinária (DGV), apresentou conclusões que atestam as características únicas da espécie. Actualmente, o universo jarmelista é bastante reduzido, tendo sido identificadas 63 fêmeas e dois machos, havendo necessidade de o preservar, sendo que a próxima década será vital para se avançar, ou não, para a certificação da raça.

Durante um ano, a Direcção-Geral de Veterinária estudou os dados recolhidos com o objectivo de distinguir as vacas mirandesas das jarmelistas. Com os motivadores resultados obtidos vai ser agora possível trabalhar para que, daqui a 10 anos se possa aquilatar do eventual sucesso do trabalho efectuado. Na apresentação do estudo, Fátima Sobral, da DGV, deixou um alerta aos produtores de vacas jarmelistas: «O que é importante, neste momento, é manter este número de animais e haver muito cuidado para não se fazerem misturas», realça. Estes resultados são «positivos», do ponto de vista da «expectativa das pessoas», mas agora é providencial que não se façam «cruzamentos de uma forma descontrolada» com outras raças. Do mesmo modo, «é preciso ter muito cuidado com aquilo que se faz em termos de raça para preservar este tipo de animais», reforça. Também Mário Costa, do mesmo organismo, confidencia que as conclusões retiradas desta fase do estudo indiciam «algo interessante», mas frisa que a população jarmelista identificada é «muito diminuta». Contudo, o estudo indicia uma «certa diferenciação desta população em relação a populações muito próximas», o que é um «bom sinal», já que se não fosse assim era «mais complicado» distingui-las. Agora, esta população «tanto pode gerar uma raça como fixar-se numa variedade de outras raças ou então não ser nada, mas não é isso que queremos», assegura. De resto, este é apenas o «primeiro passo», havendo que continuar a trabalhar para depois «darmos passos concretos que possam levar à criação de um registo», adianta. Há que «continuar a avaliar e a estudar com segurança, critério e rigor, de modo a que a nossa acção não possa ser criticada e possa logicamente chegar a bom porto», sublinha.

Resultados do estudo foram recebidos com «lágrima no canto do olho»

Satisfeito e até emocionado com o estudo apresentado publicamente no domingo ficou Agostinho da Silva, acérrimo defensor da vaca jarmelista. Estes resultados são tidos como «positivos», embora «não sejam aquilo que gostaríamos no imediato», mas «também compreendemos que estas situações requerem um estudo mais sério e demorado», reconhece. Assim, «compreendemos perfeitamente este espaço» e com a «ilusão com que os criadores continuam a vir aqui acredito que vamos conseguir mantê-los durante os tais 10 anos necessários para que a coisa funcione», acredita. No entanto, alerta que «ou este evento passa a ser um evento do município e da região ou então não é fácil manter a ilusão destas pessoas. Vai ter que se falar com os produtores um a um, fazer-lhes perceber o que está em causa para que não haja o tal descontrolo que pode ser um risco como cruzamentos indevidos e outro tipo de situações», frisa. Por outro lado, os dados apresentados foram vistos «um bocadinho com a lágrima no canto do olho», já que revelam que a «teimosia e a persistência» em defesa da vaca jarmelista «valeram a pena», enaltece. Quanto a mais uma edição da Feira-Concurso do Jarmelo, Joaquim Firmino Paixão, elemento da organização mostrou-se agradado por a aldeia ter acolhido «montes e montes de gente» no último domingo, o que é «muito bom». Para o futuro existe a ambição de se garantirem «melhores condições para o gado», nomeadamente com «sombras à altura» para os animais, mas sem «sem dinheiro, nada se faz», avisa, reclamando mais apoios para o evento. Pelo lado da Câmara, o vereador Vergilio Bento reconheceu a «necessidade de se investir e de apoiar» a criação da vaca jarmelista.

Ricardo Cordeiro

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