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Nós e os Gregos

Precioso, meu precioso… emprego. Os tempos que correm são uma corrida pela manutenção. A manutenção de um emprego. Estável ou instável, mas preciosamente remunerado a tempo e horas, porque os bancos, os serviços, as finanças e, acima de tudo, o estômago não perdoam, nem esperam. Por tudo isto e não só, parecem, a esta distância, ridículas, as reivindicações de alguns sindicatos irresponsáveis que preferiram matar a galinha que os alimentava a ajudar a alimentá-la. As empresas não são inimigas dos trabalhadores, são o seu ganha-pão. Também sei que alguns patrões não parecem amigos dos seus trabalhadores e os veem apenas como um meio de atingirem os seus lucros. Temos bons e maus exemplos desta relação nem sempre equilibrada. A Autoeuropa e a Sicasal como bons exemplos e a Valadares e uma imensa maioria como maus. Mas parece-me que uma diminuição das garantias nos subsídios de desemprego começa a fazer mudar algumas mentalidades e o “estar-se a marimbar” para a empresa ou instituição começa a ser substituído por uma atitude proativa no sentido de tudo fazer para que tudo corra bem para que se garanta um salário.

Nesta linha de pensamento, uma referência ao documentário da BBC sobre a China. O sucesso daquela economia vem de uma oriental e obsessiva dedicação à empresa, de algum trabalho escravo (segundo os nossos parâmetros), mas também de uma poupança excecional de cada indivíduo relativamente ao seu salário. Um país que dá muito poucas garantias na saúde, na educação, na habitação, entre outras, cria nos seus cidadãos uma óbvia necessidade de poupança para dias piores, à semelhança do que era a nossa mentalidade antes de a torneira dos milhões europeus ter começado a jorrar. O que é mais cínico em tudo isto é que é este dinheiro barato, das poupanças, associado à pouca apetência para o consumo desenfreado, por parte dos chineses, que cria um superávit na sua economia e nos seus bancos. Foram esses mesmos bancos que nos permitiram ter dinheiro barato para os nossos devaneios consumistas passados e são agora os mesmos que nos estão a comprar as empresas mais valiosas e, espero mesmo, a ajudar-nos a sair da crise. Neste país, a saída passa por tentar pagar o que houver a pagar, a nível individual e como nação e, ao mesmo tempo, mudar completa e absolutamente o azimute do “gastar, gastar, gastar” para “poupar, poupar, poupar”. Se a esta nova atitude juntarmos uma redução no consumo do que vem de fora e inculcarmos uma, nacionalista, procura pelo que é genuinamente português, estaremos a matar dois coelhos de uma cajadada, diminuímos as importações e beneficiamos as empresas portuguesas gerando emprego. Ao contrário do que algumas eminências pardas, de todos os quadrantes, andam por aí a propalar, Portugal tem toda a vantagem em ser um bom aluno neste imperativo ajustamento económico e financeiro. Não há folga nem vai haver tão cedo e qualquer cedência ao populismo deitaria por terra todos os sacrifícios feitos até agora, principalmente pelos funcionários públicos, mas também pelas camadas mais desfavorecidas ligadas ao setor privado. Resta a este Governo mostrar, para além de qualquer dúvida, que está disposto a sacrificar também os mais favorecidos e deixar-se de subterfúgios. Aí terá um capital de credibilidade e justiça incomensuravelmente maior para unir a sociedade à volta deste desígnio nacional. Não há aqui qualquer paixão pela austeridade como o tipo do PS, que não sabe nem pode dizer mais nada, anda por aí a ventilar. Nem os seus correligionários consegue convencer. É que a memória, apesar de curta, é a suficiente para não lhes permitir esquecerem-se de que, até há poucos meses, também eles estiveram a ser governados por um governo irresponsável, também eles viram recentemente as famosas e milionárias contas nas Ilhas Caimão expostas no “Tugaleaks” e viram o “fugitivo” na cidade das luzes a pronunciar-se sobre as contas do país que acabara de afundar. O que eu não percebo é a razão pela qual, finda a imunidade política, não há uma verdadeira e intensa caça às bruxas, que é como quem diz, aos cretinos que só (ou só cretinos) por aqui passaram para se governarem, numa política de terra queimada, cedendo ou conluiando com lóbis sem pensar nas consequências. Imaginem como estaríamos se a sociedade civil não se tivesse rebelado contra as intenções megalómanas da construção de um novo aeroporto ou de uma linha de TGV que era para ser em T! Estou em crer que hoje nos veríamos bem mais Gregos para encontrar uma saída do “minotáurico” labirinto financeiro em que estamos metidos.

Por: José Carlos Lopes

Comentários dos nossos leitores
Teodoro farias tafcoa@sapo.pt
Comentário:
Parabéns.Subscrevo inteiramente, se o autor me der permissão.É preciso falar a verdade .Um exemplo, para todos,sejam eles empresários, trabalhadores ou outros…Mais artigos destes precisam-se…Obrigado
 

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