Arquivo

Nivoso

1. Nos dias 26 e 27 de Novembro, no âmbito do Dia da Cidade, foi apresentada no Teatro Municipal da Guarda a peça “Tão Perto do Puro Azul do Céu”. Produzida a partir de um conjunto de textos de cariz poético com um denominador comum: a Guarda como tema. O espectáculo teve coordenação e encenação de Américo Rodrigues e selecção de textos da responsabilidade deste vosso criado. O lote escolhido incluiu autores comoAlberto Dinis da Fonseca, António Monteiro da Fonseca, Augusto Gil, D. Sancho I, Eduardo Lourenço, João Bigotte Chorão, João Patrício, José Augusto de Castro, José Manuel S. Louro, José Monteiro, Ladislau Patrício, manuel a. domingos, Miguel Torga, Osório de Andrade, Pedro Dias de Almeida, Políbio Gomes dos Santos, entre outros. No palco, como protagonista /narrador, esteve José Neves. Qual tem sido a importância da poesia na Guarda? Obviamente, daqui não saíram, tenho essa amarga suspeita, os melhores poetas da nossa história. No entanto, muitos por ela passaram e não ficaram insensíveis à sua singularidade. Sendo alguns de primeiro plano, é justo dizê-lo. O peso do granito, a densidade da paisagem, a linearidade dos gestos não constitui, na aparência, um apelo poético com um módico de grandeza. E na verdade não são. É que, na Guarda, é bem possível que as contas poéticas não se rejam pela tabuada vulgar. É praticamente certo que a ausência de uma “decoração” confortável, de musas em águas tépidas, de rios que dilaceram e incessantemente criam, de embalos mais gingões, de uma doçura concertada, obriguem a um trabalho suplementar. Não para descobrir coisas onde elas não estão. Não para as esconder. Mas simplesmente chamar a atenção para que a sua única realidade é não serem mais do que aquilo que parecem. Uma poesia assim obtêm-se mais pelo despojamento do que pelo esforço. Mais pela evidência da matéria do que pela sua contemplação. Mais pelo aconchego do que pela dissolução. Mas não é caso para pessimismos. Bem pelo contrário. A prová-lo, fez-se este espectáculo. Uma espécie de balanço poético da cidade, onde foram convocadas várias linguagens artísticas, vários autores e várias gerações. Com a poesia no centro do eixo da gravidade. E a Guarda como berçário dos lugares da sua percepção. Em suma, um espectáculo que a coloca exactamente no centro das qualidades poéticas que dela irradiam. Ou se preferirem, uma visita guiada, multidisciplinar, por uma espécie de neo Penalva sibilante e encantatória.

2. Chama-se “Moeda de Troika”. É um programa que passa na RTP I aos domingos à noite. Os convivas são Herman José, Rita Ferro e uma barbie, tanto quanto sei ligada à moda, mas cujo nome ignoro. Os primeiros fazem as despesas da conversa e marcam o ritmo do programa. Nota-se que ignoram militantemente a terceira. Que de vez em quando “entra” na conversa. E como? Emitindo inanidades diversas, umas vezes repetindo o que ouve, outras fazendo comentários à propos. Num registo de jovialidade esforçada, cujo trade off com algum vestígio de inteligência é mais do que remoto. E faz isto enquanto mexe as pestanas falsas e abana discretamente o decote. Ou seja, Herman e Rita “fazem” o programa. A nossa barbie decora-o. Os primeiros, com polidez, fazem de conta que ela não existe. A segunda valida a sua existência com uns esparsos sms vocais. “Escritos” no jargão apropriado.

3. Quem circula nas 4 ex-SCUT – A22, A23, A24, A25 – já sentiu o impacto nas suas contas bancárias das taxas a pagamento desde 8 do corrente. Mas a história ainda vai a meio. A indignação dos utentes e dos cidadãos residentes nas zonas afectadas não irá parar de crescer. As providências cautelares e as acções de protesto multiplicam-se. O entupimento das alternativas (que em rigor não o são em grande parte do percurso, onde o traçado das auto-estradas coincide com o das antigas IP), a confusão total nas fronteiras e postos de venda, a forma vergonhosa como o pós pagamento é feito (nos correios e nos 2 ou 3 pay shops existentes), sem a possibilidade de ser efectuado por MB, mediante referência obtida online, o caos no pagamento de viaturas estrangeiras, são tudo indícios de um autêntica extorsão aos cidadãos/utentes e uma ignomínia para quem nisto consentiu. Até porque não houve nenhum tipo de debate público sério sobre o tema. E muito menos houve qualquer responsabilização política ou criminal dos responsáveis por esta trapalhada. E há razões mais do que suficientes para isso. Como se sabe, as portagens resultam de uma negociação mal feita entre o Estado e as concessionárias. Que culminou na alteração do contrato de concessão, em finais de 2009, quando era Secretário de Estado da tutela Paulo Campos. O mesmo que, sem pestanejar, foi eleito no ano seguinte deputado pelo PS no círculo da Guarda. O objectivo da parceria è óbvio: abrir o caminho para a Ascendi começar a facturar, rapidamente e em força. E quem vai pagar a conta? Os cidadãos e empresas das zonas mais debilitadas do país, naturalmente. O ponto mais fascinante das alterações produzidas diz respeito à fixação de uma “compensação”, a ser paga pelo Estado às concessionárias. Uma espécie de quota de disponibilidade, no valor de 1,5 milhões por ano, liquidada mesmo que nenhum veículo passe pelas “SCUT”! Acredite quem quiser!

4. Votos de um Bom Ano para os leitores deste espaço.

Por: António Godinho Gil

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Leave a Reply