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Nem Miolos nem Tijolos (continuação)

Sugeria eu na semana passada que o simples rifão “mais valem miolos que tijolos”, pese embora a sua sonoridade e, digo-o agora, seja muitas vezes justificado, tinha um péssimo exemplo no caso do novo hospital da Guarda. A desistência da obra implica a perda de um importante investimento na região, que poderia significar um novo alento para a nossa debilitada economia. A saída da Delphi, a insolvência de empresas importantes e as portagens na A23 e A25 tiveram efeitos devastadores no concelho. Um investimento da dimensão do novo hospital iria repercutir-se positivamente, dar sinais de esperança no futuro.

É verdade que este investimento teria de ser confrontado com as ambições da Covilhã, desejosa de conferir dimensão e massa crítica ao seu hospital universitário, e com as de Viseu, impante do seu hospital central. Para estes dois hospitais terem a dimensão desejada não sobrava espaço para o da Guarda, e talvez venha daí o comentário do ministro da saúde na Guarda, que ao ver as obras em curso dizia algo como, ou com o significado de, “e para que serve isto?”.

Poderia ter razão, achando, mais uma vez e como outros, que num espaço tão curto, de apenas cem quilómetros, não se justificariam três unidades hospitalares de grande dimensão. A verdade é que foram projectadas e que, quando o foram, pareciam justificadas. A verdade é que o distrito da Guarda, pouco a pouco comido aos pedaços, concelho a concelho, serviço a serviço, parece não interessar já a ninguém. Com um instituto politécnico em clara decadência, conforme mostram os números mais recentes, com uma plataforma logística entregue às moscas, mal planeada e pior executada, onde se enterraram milhões que agora parecem não ter sentido, o investimento no novo hospital, sucessivamente prometido, parecia a última esperança.

Já não é. O governo central prefere investir mais a norte, em Viseu, e mais a sul, na Covilhã, mesmo tendo de indemnizar pesadamente o consórcio que tinha ganho o concurso para a construção da segunda fase do novo hospital da Guarda e apesar de este investimento cair a custo zero para o erário público. Esta decisão é um sinal inequívoco, mais um, de que desistiu da região. Dói este desprezo, assim como doem a indiferença e o silêncio dos que mandatámos para lutarem por nós.

Por: António Ferreira

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