Arquivo

Nelson Mandela (1918-2013)

Morreu Nelson Mandela. Homem de Estado, Presidente da África do Sul (1994-1999), o mais conhecido presidiário do mundo, defensor da liberdade e dos direitos dos desfavorecidos, paladino da igualdade de oportunidades e do fim de todas as formas de opressão, Nelson Mandela morreu ontem à noite em casa, em Joanesburgo. Tinha 95 anos de idade.

Mandela estava fragilizado pela persistência de uma infeção pulmonar, tendo passado por um internamento hospitalar rápido, a 10 de março, para revisão do estado da infeção que o mantivera internado 18 dias em dezembro de 2012. A morte de Madiba, como era carinhosamente tratado na África do Sul, foi anunciada pelo presidente Jacob Zuma, em conferência de imprensa.

O seu legado político ficou claramente expresso na frase que dirigiu aos milhares de pessoas que se juntaram em Hyde Park, Londres, em junho de 2008, para comemorar os seus 90 anos: «Onde quer que haja pobreza e doença, onde quer que os seres humanos estejam a ser oprimidos, há trabalho a fazer. Após 90 anos de vida, é tempo de novas mãos empreenderem a tarefa. Agora, está nas vossas mãos».

A vida de Nelson Mandela personifica a ideia de que uma pessoa tem o poder de fazer a diferença e de deixar a sua impressão digital única no mundo. Nasceu Rolihlahla Mandela em 18 de Julho de 1918, na pequena vila de Mvezo, na província do Transkei, na África do Sul rural. Mandela é filho da segunda de quatro mulheres de um conselheiro Xhosa que estava destinado a ser chefe, mas que acabou por perder o título e a fortuna, morrendo quando Rolihlahla tinha apenas nove anos.

A mudança de estatuto forçou a mãe a mudar-se com a família para Qunu, uma aldeia ainda menor a norte de Mvezo, e, por sugestão de um amigo do seu falecido pai, Rolihlahla foi batizado pela Igreja Metodista, foi o primeiro da família a frequentar a escola onde o professor lhe anunciou que passaria a chamar-se Nelson. Em 1939, entrou para a única universidade que podia ser frequentada por negros na África do Sul, a University College de Fort Hare, o equivalente no país a Oxford ou Harvard e foi ali que foi eleito para o Conselho de Representação dos Estudantes onde os seus atos, considerados de insubordinação, lhe valeram ser suspenso até ao final daquele ano letivo.

Ao voltar a casa, Mandela viu-se confrontado com o facto de lhe ter sido escolhida uma mulher para casar e fugiu para Joanesburgo, onde trabalhou numa série de funções enquanto terminava o seu bacharelato por correspondência. Entrou na Universidade de Witwatersrand para estudar direito e envolveu-se ativamente no movimento anti-apartheid inscrevendo-se no ANC (Congresso Nacional Africano) em 1942.

Sete anos mais tarde, o ANC adotou oficialmente os métodos de boicote, greve, desobediência civil e não-cooperação, tendo como objetivos a plena cidadania, a redistribuição da terra, direitos sindicais e educação gratuita e obrigatória para todas as crianças. Durante 20 anos, Nelson Mandela liderou uma campanha pacífica e não violenta contra o Governo e as suas políticas racistas e fundou um escritório de advocacia com Oliver Tambo que dava aconselhamento a negros que não dispunham de representação.

Foi preso, juntamente com mais 150 pessoas, presas em 1956 acusadas de traição pela sua prática política embora tenham acabado por ser ilibados. Já menos convencido da eficácia dos métodos pacifistas que defendia, Mandela organizou uma greve nacional dos trabalhadores de três dias em 1961 pela qual foi preso no ano seguinte. Em 1963, foi levado a tribunal e condenado, com outras dez pessoas, a prisão perpétua por ofensas políticas, incluindo sabotagem.

Nelson Mandela esteve detido em Robben Island 18 dos 27 anos de pena que cumpriu. Após 27 anos como o prisioneiro nº 46664 sob o regime de apartheid na África do Sul, emergiu como cabeça do ANC (Congresso Nacional Africano) para fazer a reconciliação com os seus opressores e conduzir o país pacificamente na sua transição após a era de 46 anos de segregação racial. Quando foi libertado, apelou de imediato às potências estrangeiras para que não reduzissem a sua pressão sobre o regime de Pretória com vista a uma reforma constitucional.

Mandela ganhou o Prémio Nobel da Paz em 1993, quando era Presidente Frederik de Klerk e, em 1994, foi eleito o primeiro presidente da África do Sul democrática. Cumpriu um único mandato, de 1994 a 1999, tendo sido sucedido pelo seu vice-presidente, Thabo Mbeki. O Dia Nelson Mandela foi instituído em 2009 para celebrar a sua vida e a chamada à ação que fez ao longo da sua vida. Celebra-se a 18 de Julho e, propositadamente, não é um feriado para que inspire todas as pessoas em todo o mundo a trabalharem pelos valores que Nelson Mandela defendeu ao longo de toda a sua vida.

Sobre o autor

Leave a Reply