«É altura do PS vir para a rua, de falar com as pessoas e constituir uma alternativa a esta maioria do PSD, que já chega. A população está à espera de um sinal e o PS tem que o dar nas próximas eleições autárquicas». Miguel Nascimento, vereador eleito pelo PS na Câmara da Covilhã, lançou na última sexta-feira um ultimato à concelhia do seu partido, depois de ter sido confrontado pelas críticas da maioria laranja sobre o mandato do socialista Jorge Pombo.
Durante a última reunião do executivo, a maioria laranja avisou que iria accionar em tribunal o «direito de regresso» para ser ressarcida de 30 mil contos contraídos numa instituição bancária aquando da abertura de um concurso com a empresa CEOGA – falida entretanto – para as pistas de atletismo do Complexo Desportivo da Covilhã, ainda no mandato de Jorge Pombo (1994-1998). «Votei a favor do ressarciamento porque era o PS quem estava a gerir na altura os destinos da Câmara. Não sabemos o que se passou com esse accionamento de garantia bancária, pois o processo foi arquivado por não se apurarem as responsabilidades», explicou Miguel Nascimento no final da reunião, acrescentando que esta anuência com a maioria é para que «não fiquem dúvidas que o vereador do PS está, para o bem e para o mal, a assumir a sua responsabilidade». Mas avisa: «A partir de hoje, o presidente da Câmara vai ter que me ouvir em relação aos despachos do Tribunal de Contas e a decisões judiciais que correm mal neste mandato. Uma a uma, vou trazê-las todas para serem discutidas», ameaça. Isto porque o socialista acha «lamentável» que passados seis anos «ainda se atire para a gestão do PS a responsabilidade da actual gestão que já leva um ano e meio», disse, referindo-se concretamente à taxa de endividamento da autarquia. «É importante que o PS assuma a vontade e a necessidade de recuperar as vitórias autárquicas para parar este endividamento e desonestidade política de responsabilizar sempre o PS. O partido tem que recuperar a Câmara», desafiou, considerando que a concelhia tem pessoas «muito capazes».
«O PS tem que constituir um projecto para ganhar»
Embora reconheça que o PS local tem estado praticamente adormecido, o vereador diz que «ainda há tempo para o se organizar, tornar-se combativo e criar um projecto alternativo e credível» para vencer as eleições em 2005. «O PS tem que estar à altura de derrotar esta maioria», frisou, esperando que não se apresente nas próximas autárquicas com «uma equipa constituída na véspera para apenas se apresentar ao acto eleitoral». De resto, acha que o PS unido «não é vencido na Covilhã» e compara a concelhia à selecção nacional de futebol: «Tem jogadores, mas não tem equipa». Contactado por “O Interior”, Vítor Pereira, presidente da concelhia socialista, não quis comentar as declarações de Miguel Nascimento por serem assuntos a tratar «internamente». Mas avisou que o partido está a «esforçar-se» e a preparar um «plano» para «começar a “rentrée” em Setembro com força e pujança». Recorde-se que a concelhia presidida por Vítor Pereira tomou posse em Junho do ano passado e prometeu fazer desde logo «marcação cerrada» à maioria laranja na Câmara da Covilhã. Depois da debandada nas últimas autárquicas, o novo líder do PS pretendia criar um novo modelo de estrutura de organização política, constituindo uma equipa de trabalho dividida por pelouros para cobrir todo o espectro da intervenção autárquica. Vítor Pereira pretendia formar uma espécie de “câmara sombra” para acompanhar “passo a passo” a vida do município e fazer uma oposição «forte e capaz» de sustentar as intervenções e sugestões. «O PS não dará tréguas e terá sempre uma proposta a apresentar sobre todos os assuntos da vida do município», prometeu no dia da tomada de posse. Um ano depois, as promessas continuam por cumprir e a única voz que ecoa do partido da rosa tem sido quase unicamente a de Miguel Nascimento.
Liliana Correia