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Não se pode “desinventar” o euro?

Em Portugal, desde o início, a criação da moeda única foi recebida pelos partidos maioritários com expectativas bastante positivas sobre os seus efeitos. Além disso, era vista como indispensável ao processo de reforço da integração europeia. Como escreveu Medeiros Ferreira no seu último livro, «Não há mapa cor-de-rosa. A história (mal) dita da integração europeia»: «A oligarquia portuguesa foi europeísta com a mesma mentalidade acrítica com que fora colonialista até à exaustão».

Foi, por consequência, sem grande debate interno que, em abril de 1992, Braga de Macedo, o Ministro das Finanças do Governo de Cavaco Silva, fez o escudo entrar no Sistema Monetário Europeu e, a 10 de dezembro de 1992, a Assembleia da República aprovava, para posterior ratificação pelo Presidente da República, o Tratado da União Europeia ou Tratado de Maastricht. Esse documento definia o caminho para a moeda única. A consequência lógica destas decisões era a adesão ao euro, processo concluído por Sousa Franco, Ministro das Finanças de António Guterres em 1999.

A 1 de janeiro de 2002, o euro era lançado em circulação. Em Portugal, na imprensa, regra geral, o tom foi de celebração e euforia com «este simples e prodigioso testemunho (…) legado por uma geração ímpar de homens convictos e corajosos» (“Público”, 02-01-02). Aqui e acolá, vislumbravam-se algumas sombras, mas o lançamento do euro em Portugal gerou um enorme consenso mediático.

A crise financeira internacional, a quase bancarrota de Portugal em 2011, o subsequente pedido de «ajuda internacional» em maio desse ano, as consequências do «programa de ajustamento» colocaram em questão a integração na zona euro. Hoje já ninguém tem dúvidas de que o euro foi mal desenhado e a zona euro tem-se revelado negativa para quase todas as partes envolvidas. Curiosamente, os alemães, que não desejavam nenhuma moeda única, foram dos poucos a sair, até ao momento, beneficiados nesta história, e a Alemanha assumiu finalmente um domínio político proporcional ao seu poderio económico, coisa que antes nunca tinha acontecido.

O euro foi um erro crasso. Pela calada, os políticos entregaram de bandeja grande parte da soberania do país, da qual a moeda é, por excelência, o seu maior símbolo. Como escreveu João Ferreira do Amaral em “Porque devemos sair do euro”: «Foi a maior capitulação do país desde as cortes de Tomar de Abril de 1581, que consagraram o domínio de Filipe II de Espanha sobre Portugal».

Por: José Carlos Alexandre

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