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«Não iremos entrar em aventuras que não possamos cumprir»

Cara a Cara – António Vicente

P – A Casa da Covilhã promoveu recentemente em Lisboa a Feira de São Miguel. Como correu a iniciativa?

R – Foi mais um evento que, felizmente, correu muito bem, quer pelo número de pessoas presentes, pela quantidade de vendedores e expositores, quer ainda pela alegria e convívio que se gerou, pois reencontraram-se pessoas que cresceram juntas e que, por motivos diversos, há muitos anos não se viam.

P – Quantas pessoas terão passado pela atividade e que produtos estiveram presentes?

R – Passaram pelo Mercado de Benfica no passado dia 6 mais de três mil pessoas, a grande maioria naturais da Covilhã ou com raízes no concelho e ainda alguns amigos dos nossos conterrâneos. Friso também a vinda de uma excursão da Covilhã, com 60 pessoas que ali passaram um dia agradável de confraternização, revivendo o seu passado.

P – É uma atividade que poderá repetir-se no próximo ano?

R – Este evento foi iniciado no fim dos anos 70 por alguns jovens que, em 2010, voltaram aos órgãos sociais da Casa da Covilhã, nos quais me incluo, e que reativaram a Feira de São Miguel. Levámos essa ideia à Câmara da Covilhã, que nos apoiou, embora todos soubéssemos do risco que iríamos correr, pois a Casa da Covilhã vinha de uma grande crise diretiva. Esteve fechada durante quatro anos e acumulou dívidas muito grandes. Arriscámos, e em boa hora o fizemos, pois logo em 2011 a iniciativa foi um êxito. Em 2012 voltámos a ter sucesso e a presença de muitos covilhanenses e familiares, pelo que não nos causou grande admiração que o evento deste ano voltasse a ter o mesmo sucesso. Evidentemente que iremos fazer a feira no próximo ano, já que agora quem pede a sua realização são os associados, familiares e amigos destes, pois já faz parte do seu prazer, diversão e convívio no primeiro domingo de outubro.

P – Que outras atividades promove a associação regularmente?

R – A Casa da Covilhã tem um plano de atividades anual. Promovemos sessões de fados de dois em dois meses, atuações de grupos de teatro e grupos musicais ou de cantares, colóquios sobre o concelho, viagens e visitas aos museus da Covilhã e a zonas históricas de Lisboa. Este ano, a 23 e 24 de novembro, iremos realizar um passeio à Covilhã, revendo locais que fizeram parte da nossa infância e admirando as grandes modificações que a nossa cidade sofreu nos últimos anos. Todas as terças-feiras fazemos almoços-convívio na sede, sempre muito concorridos e onde nos preocupamos em divulgar pratos típicos da região. Uma vez por mês este almoço tem uma tertúlia em que um convidado vem falar sobre diversos temas. Este ano iniciámos a realização, no Largo do Intendente, a 26 de maio, de uma réplica da Feira de São Tiago, padroeiro da cidade da Covilhã, em que trouxemos a Lisboa, além do folclore e cantares, também o que de melhor existe na nossa terra, sendo que a grande atração em termos de vendas foram as cerejas.

P – Qual é a situação financeira da coletividade?

R – Para a situação que encontrámos em 2010, estamos bem, pois quando assumimos a gestão da Casa da Covilhã encontrámos dívidas na ordem dos 30 mil euros, uma ação de despejo movida pela senhoria e todo o histórico daquela agremiação destruído. Foram três anos de luta intensa e sempre com o coração nas mãos, pois quanto mais se mexia no passado mais credores apareciam. Neste momento temos todas essas situações controladas e não temos qualquer dívida a fornecedores ou outros, pelo que a situação financeira, não sendo a desejada, é estável. Contudo, ambicionávamos fazer várias obras de manutenção e alteração nalguns espaços que não podemos efetuar. Dentro das nossas possibilidades estamos equilibrados e não iremos entrar em aventuras que não possamos cumprir.

P – Quantos sócios tem a Casa da Covilhã? É um número satisfatório ou gostaria de o aumentar?

R – Qualquer dirigente associativo pretende sempre ter o maior número de associados na sua coletividade, pelo que não fujo à regra. Temos pouco mais de 150 sócios, mas tenho esperança que, no futuro, outros aparecerão, pois só com atividades e incentivos se podem captar mais associados.

P – Que objetivos levaram à criação da Casa da Covilhã?

R – A Casa da Covilhã em Lisboa teve a sua origem nos anos 20 do século passado, quando foi criada uma Associação Regionalista, Instrutiva e Recreativa, denominada Grémio Covilhanense. A 28 de outubro de 1939, em conformidade com a legislação em vigor, passou oficialmente a denominar-se Casa da Covilhã. A 1 de junho de 1940, a associação mudou de instalações para a Rua do Benformoso, onde ainda hoje se encontra. De acordo com os atuais estatutos, a Casa da Covilhã tem como fins principais divulgar, apoiar e promover as atividades económicas, culturais e desportivas desenvolvidas no concelho da Covilhã; divulgar o património histórico e cultural do concelho; promover a proximidade e fomentar a solidariedade entre sócios residentes na região de Lisboa, prestar apoio aos associados em Lisboa, quer na sua integração inicial, quer em eventuais dificuldades futuras; apoiar cidadãos residentes no concelho da Covilhã nas suas deslocações a Lisboa; contribuir para o bem-estar e integração social dos residentes junto da sua sede.

P – À distância, como tem visto o desenvolvimento da Covilhã nos últimos anos?

R – Apesar de estar radicado em Lisboa há mais de 40 anos continuo a ser um espetador atento ao que ocorre na minha cidade e onde me desloco com frequência, pois é ali que tenho as minhas raízes, que nunca negarei, onde tenho a minha família, os meus amigos e a minha infância. Evidentemente que a Covilhã alterou-se muito nestes anos, tendo tido fatores positivos e negativos. Felizmente a parte positiva é bem maior que a negativa. Ainda sou do tempo dos lanifícios, da azáfama daquela gente a correr a pé e logo pela manhã para as dezenas de fábricas existentes, das lavadeiras a lavarem as roupas no Ribeiro de Flandres e de uma agricultura de minifúndio bastante ativa. Hoje, a Covilhã está virada para a tecnologia, para a UBI, para a Faculdade de Medicina, para o Data Center da PT, com a cidade que eu conheci a ficar despida no seu centro e a virar-se para a nova cidade que nasceu nas quintas da zona da estação dos caminhos de ferro e do ex-campo de aviação. Esta já não é a cidade onde me criei e onde fiz as minhas diabrices de criança. Resta-me o meu Sporting da Covilhã, onde bebi muita da sabedoria e exigência dos seus dirigentes dos anos 60. Contudo, como homem que olha para o mundo com pensamento positivo, gosto da nova imagem da minha cidade e da sua viragem para o futuro.

António Vicente

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