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Não fui eu

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Há instituições onde a vida decorre de modo mortal, sem brilho, sem horizonte, sem destino. As instituições onde sempre se responde “não sei”, “não fui eu”, “não tenho”, “a culpa não é minha”, são lugares sem liderança e sem lideres não há rumo.

Podem fazer-se manuais de boas práticas, podem construir-se fluxos e discriminadores, orientar com base em decisões colectivas, mas se não há exemplo, se a impunidade é graciosa, se o caminho de uns é diferente de outros, se a cunha se ajeita, se o favor se cobra e fermenta, se a pandilha se organiza e quem lidera se acoita e demite, então a Instituição definha, involui e se apaga. Os “não fui eu” são os cobardes e os preguiçosos, “os não sei” nunca vão querer saber pois esse é o melhor caminho para não ter trabalho. Quem nunca aprende nunca faz. “Os não tenho culpa” fogem de toda a responsabilidade e chamados a mandar são acusadores e prepotentes. Os insucesos nunca lhes pertencem e qualquer olhar, qualquer gesto justifica o azar e a má fé. Eles os tão perfeitos, eles os intocáveis, eles os da impunidade, eles os artesãos da obra-prima não têm culpa. Quem tem culpa são os que sabem, os que fazem e os que registam as desventuras e os acidentes. Quem não regista não tem. Depois de juntar estas pessoas as Instituições passam a ter as siglas do “não há”, “ainda não chegou”, “não sabemos quando”, e o máximo do provincianismo que é os “ai eu”. Se for a um restaurante e lhe disserem “não temos” e “não sou eu”, e depois “a culpa não é minha” se calhar vai mesmo embora não? “Ai eu”.

Por: Diogo Cabrita

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