Estivesse numa reunião e, alto e bom som, afirmaria:
– Ponto de ordem à mesa: quero afirmar a minha condição de adepto do Glorioso!…
Posto isto, podemos partir desta premissa e passar para um outro patamar.
Quando, nos inícios deste março, ouvi um dirigente de um dos maiores clubes de Portugal rebuscar na sua genealogia para deitar boca fora um chorrilho de asneiras, pensei estar a sonhar ou a ouvir mais que a conta. Socorri-me da tecnologia para voltar atrás no tempo e ouvir de novo.
Afinal era mesmo verdade e, pudesse eu falar com o desaparecido almirante, e tenho de certeza certa que me confidenciaria ter dado três voltas na sepultura. Estou mesmo em crer que o bom do almirante pegaria num machado para cortar cerce essa pernada da sua árvore genealógica…
De facto, o homem parece querer entrar em competição de asneiras com o recém-eleito presidente dos EUA. E, pelos vistos, não quer ficar em lugar secundário. Mais: é bem capaz de ter sucesso, a avaliar pelo discurso de vitória que ele agora apelida de êxito já que aquela palavra, vitória, é vocábulo banido do seu léxico…
Esquece-se, o bom rapaz, que é presidente de uma das maiores coletividades do país e estar a falar para milhões, alguns dos quais o idolatram em acéfala aceitação.
Serei naïf, mas gostava que o dirigismo desportivo fosse escola de boas maneiras.
Gostava que fosse exemplo para jovens. Gostava que fosse pedagogia. Gostava que o fervor clubístico não toldasse ideias ao ponto de levar um dirigente a vociferar qual peixeira, sem ofensa para estas.
Gostava que não se apregoasse aos quatro ventos o papel da escola na formação de cidadãos de corpo inteiro para, depois, vir um rapaz destes fazer estas tristes figuras.
Gostava que aqueles que, por vontade própria, se candidatam a estes lugares e sabem ser quase incondicionalmente seguidos, soubessem ser exemplo.
Gostava que não se servissem da muleta do populismo para tentarem unir hostes em torno do objetivo último que é o de alcançarem, ou se perpetuarem, no poder.
Gostava. Mas, pronto, serei naïf. Será isso utopia. Mas, sendo-o, não significa que não corra atrás dela lutando contra este e outros exemplos do que não deve ser feito.
Como se sentirão os pais que têm filhos defensores de outras cores?… E os casais que vivem o desporto, se é que ainda podemos falar de desporto neste patamar, de forma salutar independentemente do lado para o qual lhes bate o coração?…
Por mim, (serei naïf?…) nem sequer me sinto ofendido pela simples e muito clara razão que não ofende quem quer, ofende quem pode.
E este rapaz, é mais do que evidente, não pode!…
Bem me apetecia utilizar a expressão vociferada então, mas seria baixar ao nível de quem a proferiu.
O que equivale a dizer que seria gastar cera com ruim defunto…
Por: Norberto Gonçalves