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Na tal semana…

Observatório de Ornitorrincos

Vivemos nesta altura uma época especial em que todos falam de paz e harmonia. Em que todos procuram ajudar-se uns aos outros, principalmente aqueles a quem a vida menos bafejou pela sorte. Um tempo no qual todos se sentem irmãos e camaradas. Em que se esquecem as tricas, as zangas e as inimizades. É assim o período pré-eleitoral no PS de Sócrates. Mas o que me traz a este texto é o espírito natalício e o processador de texto Microsoft® Word e não os amigos repentinos do provável futuro primeiro-ministro.

Para começar, queria chamar a atenção para o perigo que representa o Pai Natal. Essa criatura é um velho esquerdista soixante-huitard (como se pode ver pela farpela vermelha, pela barba revolucionária e pelas oferendas de Natal que trouxe ao Bloco de Esquerda) convertido ao consumismo pós-moderno para que Bauman nos alertou. Além disso, roubou ao Menino Jesus o saco das prendas, o que não abona muito em favor do gordalhufo.

A esquerda está degenerada pelo capitalismo. Razão tem Domingos Abrantes, membro do Comité Central do PCP, quando disse que o fim da URSS tinha sido “uma enorme tragédia”. E o partido da Soeiro Pereira Gomes é conhecido pela sua preferência por comédias, nomeadamente as dos irmãos Marx. Esta grande referência histórica, como se viu no último congresso, continua bem viva nos corações comunistas, apesar de por vezes o non-sense marxista parecer já ultrapassado. E não só, também o leninismo – em honra ao cantautor brasileiro Lenine – continua uma luz acesa permanente na luta anti-capitalista.

Deixemos de lado a esquerda moderna e as suas particularidades e regressemos ao assunto principal. A palermice de defender o socialismo na actualidade. O Natal e o seu significado mais profundo. Esta festa da cristandade simboliza o momento do nascimento de Cristo numa noite estrelada em Belém. Aliás, o palácio do Presidente da República também fica em Belém porque se está sempre à espera que haja uma estrela que lhe ilumine o caminho e o homem não ande tanto às apalpadelas.

É nos princípios do pensamento político-teológico que devemos procurar as respostas à dúvida fundamental sobre o Natal do século XXI. E a questão é “Será que as renas do Pai Natal cobram à hora ou ao quilómetro?” Mais uma vez, esquerda e direita dividem-se na sustentação conceptual, pois enquanto a esquerda rejeita a ideia religiosa e capitalista da quadra, a direita reconhece que o Natal é uma boa altura para albergar nos lençóis moças de reduzidas posses, num acto de caridade apreciado quer por conservadores, quer por liberais e mesmo por alguns nacionais-socialistas, desde que, no caso destes últimos, a moça seja branquinha e não faça topless.

São Tomás de Aquino defendia que a Igreja deve mandar no Príncipe e Hugo Grócio que o Estado só serve enquanto defensor do bem-comum. Estes homens nunca se encontraram e ainda bem, porque dificilmente acabariam um jogo de Trivial Pursuit. Mónica Sintra não compreendeu a dualidade agostiniana e cantou “Afinal Havia Outra”, sentindo-se traída. A filosofia portuguesa chegou tarde ao panteísmo de Spinoza, ao monadismo de Leibniz e ao ocasionismo de Malebranche mas nem por isso o Natal se comemora a 27 ou 28 de Dezembro. O que prova que as coisas realmente importantes não têm tempo nem lugar. Excepto os jogos do Sporting, que são às 21.30 no Alvalade XXI.

EU VI UM ORNITORRINCO

Menino Jesus

Nas palhas deitado, nas palhas estendido, não admira que o Pai Natal lhe tenha roubado o protagonismo. Isto do show business exige muito trabalho, meu menino, não basta ser filho de gente importante.

Por: Nuno Amarala Jerónimo

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