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«Na era da Internet, o jornalista continua a desempenhar um papel fundamental e tem de investigar, recolher e partilhar informação e produzir conteúdos»

Cara a Cara – Patrícia Correia

P – Fez uma investigação sobre fontes de informação na web 2.0. O facebook nasceu há 10 anos. O que mudou no mundo da comunicação com o advento das redes sociais?

R – Mudou muita coisa. Para começar a quantidade e a diversidade de informação disponível alteraram a forma como os jornalistas procuram as suas fontes e o grau de noticiabilidade da informação. As redes sociais surgem como uma importante ferramenta de trabalho, mas, por outro lado, também condicionam o próprio produto jornalístico. Ou seja, da mesma forma que são importantes fontes para o jornalismo, o jornalismo também é fundamental para as redes sociais. Os novos media sociais provocaram alterações nas tradicionais técnicas de pesquisar e verificar notícias. O aparecimento das redes sociais não mudou somente o jornalismo, mudou o mundo. Por isso, a prática jornalística passa obrigatoriamente pela utilização das redes sociais. Este tipo de ferramentas da Web 2.0 são importantes para a atividade jornalística porque permitem difundir e receber informações através da sua própria rede. Considero que as redes sociais podem ser uma boa ferramenta de trabalho desde que utilizadas com prudência.

P – A que conclusão chegou no seu trabalho de investigação sobre a idoneidade das redes sociais enquanto fonte de informação?

R – No meu estudo “Fontes de informação 2.0: estudo de caso nos media da Beira Interior” concluí que a maioria dos jornalistas utiliza frequentemente as novas fontes 2.0 e privilegia esta ferramenta enquanto fonte de informação. Apesar disso, as fontes de informação tradicionais continuam a ser muito utilizadas pelos jornalistas, destacando-se claramente, os contactos pessoais. Quanto às fontes de informação 2.0 utilizadas pelos jornalistas destaca-se a utilização das redes sociais, que são apontadas por um terço dos inquiridos como sendo utilizadas com alguma frequência. Outra conclusão é que os jornalistas usam cada vez mais os blogues e as redes sociais como fonte informativa. A quantidade e a diversidade de informação que estas novas ferramentas disponibilizam aos jornalistas, seja em complementaridade de informações ou enquanto fontes de informação, são evidentemente sedutores para os jornalistas. Concluí também que a utilização de redes sociais pela maioria dos jornalistas da amostra evidencia um contacto habitual dos profissionais da região com esta ferramenta, sendo de destacar que os jornalistas de imprensa já não passam sem recorrer às redes sociais.

P – Acha que há bom jornalismo online em Portugal?

R – Sim, sem dúvida. O jornalismo online em Portugal surgiu quase há duas décadas, 19 anos depois constatamos que os jornais, as rádios e as televisões estão rendidos à plataforma digital. Aquilo que no início não passava de mais um suporte para comunicar foi assumindo um protagonismo a que já ninguém consegue ficar indiferente. No início havia um desinteresse generalizado pelas plataformas digitais, no entanto, gradualmente, passaram a ser vistas como um instrumento com caraterísticas muito específicas. Ainda hoje as publicações online em Portugal estão longe de aproveitar as potencialidades oferecidas pela Web. Atualmente, a velocidade de informação é tanta que a notícia não espera pelo dia seguinte e o jornalismo online não é só a transposição do jornalismo escrito, radiofónico e televisivo para um novo meio. Há bons exemplos de jornalismo online em Portugal, como o novo projeto jornalístico em suporte exclusivamente digital, o “Observador”, lançado em maio. E outros exemplos mais recentes, como a edição diária do semanário “Expresso” só para computador, tablets e smartphones.

P – Na sua opinião, o trabalho do jornalista continua a ser fundamental?

R – Sim, claro! Com o surgimento da Web 2.0 qualquer cidadão passou a ter a possibilidade de colocar uma informação ou conteúdo na internet, mas isso não lhes confere um estatuto de jornalista. O jornalismo é uma coisa um bocadinho diferente, é utilizar as técnicas jornalísticas para fazer uma notícia e seguir as regras éticas e deontológicas – confirmar a informação, haver uma investigação própria, um trabalho próprio ou uma triagem do que é do interesse público e do que não é. Na era da Internet, o jornalista continua a desempenhar um papel fundamental e, para isso, tem de investigar e relacionar-se com as fontes, recolher informação, produzir conteúdos e partilhar a informação. Não obstante, a avalanche informativa proporcionada pela rede, esta também oferece ao jornalista novas dinâmicas.

P – Como vê o futuro da imprensa regional em Portugal?

R – A imprensa regional possui um papel muito importante na comunidade, porque os leitores continuam a precisar de referências de proximidade, precisam de saber que há um buraco a ser tapado na sua rua, por exemplo. Os media regionais estão mais atentos às necessidades das suas comunidades e estão mais próximos do seu público. Por isso, a imprensa regional tem maior peso em determinados distritos do que a imprensa nacional e esta é a tendência para o futuro.

P – Atualmente está fazer investigação, no âmbito do seu doutoramento, sobre o jornalismo de fronteira. Acha que existe jornalismo de fronteira em Portugal, no sentido de os jornais regionais darem espaço noticioso ao que acontece do outro lado da fronteira?

R – O jornalismo de fronteira é um tema muito recorrente no Brasil, por exemplo, em Portugal há poucos estudos sobre essa matéria. Por isso, não é fácil neste momento responder a essa pergunta, no final da minha investigação espero já conseguir responder. No entanto, posso adiantar que já identifiquei alguns focos de jornalismo de fronteira entre Portugal e Espanha, mas com caraterísticas diferentes do Brasil. O discurso jornalístico construído nos espaços de fronteira revela muito das relações e dinâmicas que quotidianamente se estabelecem frente ao local, ao nacional e ao internacional.

Perfil:

Patrícia Correia

Técnica de Comunicação

Profissão: jornalista

Idade: 34

Naturalidade: Coimbra

Currículo: Licenciatura em Ciências da Comunicação na UBI, Curso de Meios Audiovisuais no CENJOR, Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, Mestrado em Jornalismo na UBI e doutoranda em Ciências da Comunicação. Profissionalmente, estagiou no semanário “O Independente” e trabalhou na revista “Visão” e no jornal “O Interior”. Atualmente, trabalha na ADSI e é investigadora do LabCom, da UBI.

Livro favorito: “Os Maias”, de Eça de Queirós; “Spreadable Media”, de Henry Jenkins

Filme favorito: “A Lista de Schindler” e “A Vida é Bela”

Hobbies: passear

Patrícia Correia

Sobre o autor

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