A designação de “Cidade da Saúde”, atribuída à Guarda, em muito se ficou a dever a uma instituição que a marcou, indelevelmente, ao longo de sete décadas, do século passado.
Como já aqui escrevemos, embora a situação geográfica e as especificidades climatéricas associadas tenham granjeado esse epíteto, a construção do Sanatório Sousa Martins certificou e rentabilizou as condições naturais da cidade para o tratamento da tuberculose, doença que vitimou, em Portugal, largos milhares de pessoas. A Guarda foi, nessa época, uma das cidades mais procuradas de Portugal, afluência que deixou inúmeros reflexos na sua vida económica, social e cultural, como é do domínio público.
A sua principal unidade hospitalar, com créditos reconhecidos dentro e fora das fronteiras nacionais, era uma marca qualitativa da cidade e centro clínico de excelência, na área específica para que estava vocacionada. O seu crescimento, a sua afirmação, o seu prestígio resultaram de um esforço coletivo de todos quantos ali trabalhavam e outrossim do apoio e reconhecimento da sociedade pelo papel que desempenhava, pelo espírito de missão transversal aos vários sectores.
As transformações políticas, sociais, económicas, a par das sucessivas diretrizes na área da saúde, ditaram mudanças, frequentes, e a definição de uma rede substancialmente diferente, consentânea com a evolução e as exigências hodiernas.
Hoje, a atual unidade hospitalar – sucedânea da atrás referenciada, e erguida no antigo parque sanatorial – nada tem que ver com a estrutura assistencial sua antecessora, como é óbvio, embora não se possa subtrair (como alguns por vezes pretendem) de uma ligação histórica e afetiva, de nomes e factos associados à Medicina e à Guarda.
Esses nomes, e exemplos, bem poderiam inspirar as atitudes e comportamentos na atualidade, quando se trata de cuidar do presente e do futuro da Unidade Local de Saúde da Guarda.
Os mais recentes episódios, que nos dispensamos de descrever, em nada contribuíram para a saúde desta unidade, que necessita de um envolvimento coletivo, de salvaguarda e fortalecimento das suas valências e serviços, de estratégias e planos capazes de conquistarem o futuro e, acima de tudo, responder às solicitações de todos quantos a ela têm de recorrer.
O importante, para a população e outrossim para os profissionais de saúde que ali trabalham, é não se fomentarem dificuldades mas equacionar soluções, conjugar esforços, incrementar cooperação e racionalização de meios, caminhar pelas vias mais céleres e seguras, de forma a serem evitadas desqualificações e subalternizações, redução da capacidade técnica, diminuição de credibilidade.
É fundamental, igualmente, que seja valorizada a competência, a dedicação, o cumprimento do dever, o empenho num serviço cada vez melhor, a captação de novos profissionais qualificados; exigindo responsabilidades, humanizando os serviços e atuando preventiva e pedagogicamente nas situações em que for caso disso.
Aos políticos exige-se mais ação, pragmatismo, sensibilidade, conhecimento profundo e objetivo das realidades e menos intervenções mediáticas feitas a pensar em calendários ou estratégias eleitorais; exige-se capacidade reivindicativa, respeito pelos compromissos e garantia da defesa dos reais interesses das instituições e da comunidade que servem.
No caso vertente, os interesses do cidadão passam por uma Cidade da Saúde, o mesmo é dizer pela existência de uma estrutura de referência que seja, em simultâneo com a sua missão, um contributo relevante no apoio à fixação de populações, pelo apoio a prestar em termos de assistência médica e hospitalar.
Por: Hélder Sequeira