«Canetas? Não temos…só ideias!», justificou Jorge Noutel, candidato do Bloco de Esquerda à Câmara da Guarda, na tarde de segunda-feira, à porta da Delphi, na Guarda-Gare. A multidão que saía, ordenadamente, arrecadava os panfletos da “energia alternativa” de um lado, enquanto do outro lado da estrada recebiam canetas do partido socialista. Mas os bloquistas não se deixaram intimidar.
«O que temos para oferecer às pessoas são ideias e projectos. Canetas, guarda-chuvas ou aventais não fazem parte da nossa campanha», realçou Jorge Noutel. De seguida a comitiva seguiu em bloco pela cidade. Um carro e uma bandeira é quanto basta para chamar a atenção dos transeuntes mais desatentos. Depois a “mini-caravana” rumou às aldeias. Panóias, Adão, Aldeia do Bispo, Vila Fernando ou Vale de Estrela foram alguns dos locais por onde se fez ouvir a música de Zeca Afonso. No Adão, poucas ou quase nenhumas pessoas se viam nas ruas, com excepção de três crianças que logo colaram no peito um autocolante do Bloco de Esquerda, como um crachá para mais uma brincadeira. «Precisamos cá de mais água», suplica uma habitante daquela pacata aldeia à mesa do café, já cheio de propaganda eleitoral. «Ainda ontem ouvi a mesma queixa no Marmeleiro», lastima-se Jorge Noutel, enquanto regista o pedido da senhora. Já a comadre, atrás do balcão, queixa-se do negócio: «Isto está muito mal e na agricultura, também», assinala, acrescentando que «ainda no ano passado vendi batatas a 30 cêntimos, nem dava para pagar os gastos».
Naquela localidade há uma escola primária com nove alunos, mas apenas quatro vivem na aldeia e os restantes vêm de fora. Contudo, o infantário já fechou este ano por falta de crianças. «É uma situação preocupante e que encontrámos em todas as aldeias, a desertificação», lamenta o candidato do Bloco. Mas há outras preocupações. «Aqui mesmo ao lado, no Barracão, há o problema da radioactividade», atira Jorge Noutel. «Radio… quê?», perguntam ambas surpreendidas. «Nunca ouvimos falar em tal coisa», exclamam. Explicações à parte, o candidato garantiu que, na Assembleia da República ou na Câmara, o BE vai «alertar as pessoas para o risco que correm, porque isto é o que acontece em todo o lado, só que as pessoas não sabem de nada», constata. Já o posto de saúde está fechado, excepto às quartas quando lá vai o médico. «E o Hospital da Guarda está velhinho, tal como nós», graceja a proprietária do café. Uma deixa aproveitada por Noutel para dizer que o Bloco defende a construção de um novo hospital de raíz na Guarda, «de gestão pública», com equipamentos adequados e recursos humanos que possibilitem uma resposta aos anseios da população. «Há quatro anos que estamos à espera, tem sido um jogo do empurra entre o PS e o PSD», dispara o candidato. A conversa estava animada, mas a comitiva teve que seguir e “bater à porta” de outras freguesias. Não sem antes apelar ao voto: «Não se esqueçam, isto é uma estrela vermelha com uma cabeça que pensa», especifica o candidato apontando para o logotipo do BE.
Patrícia Correia