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Na aldeia dos gauleses

Fosse um livro do Asterix e os principais candidatos às eleições francesas, com exceção de Le Pen, poderiam chamar-se Macronix, Fillonix, Mélenchonix e Hamonix. Mas as eleições francesas não são banda desenhada, e Macron, Fillon, Mélenchon e Hamon não conseguiram evitar que le Pen, a candidata da extrema-direita, obtivesse o seu lugar no derradeiro tira-teimas a dois para escolher o futuro Presidente de França.

A extrema-direita vai à segunda volta de novo. Depois de Le Pen pai, agora será Le Pen filha. Mas, pela primeira vez na já longa história da 5ª República, o centro-direita tradicional não irá ao tira-teimas final.

E se a direita tradicional sai destas eleições derrotada, o PS francês, cujo candidato oficial não ultrapassou os 6,5% dos votos, também sai destas eleições derrotado. Ainda que seja apenas meia derrota. Porque Macron, o vencedor desta primeira volta, pertence à constelação de valores do PS francês e ainda porque, globalmente, a esquerda teve melhor votação do que a direita.

Macron há-de ganhar na segunda volta a Le Pen, e ainda bem por se evitar o pior. A União Europeia descansará por um dos seus dois pés não se pôr a caminho da saída. O outro é obviamente a Alemanha que, enquanto permanecer a grande ganhadora do mercado comum e das políticas do Eurogrupo, não tem razões para tanto.

Nenhum dos candidatos da aldeia gaulesa deslumbrou. Faltou em realismo a Hamon o que não faltou em situacionismo a Fillon. Mélenchon não dar pronto apoio a Macron contra Le Pen é um balde de água fria que confirma a incapacidade de alguma esquerda mais assumida em não pôr as suas convicções à frente das pessoas. E a Macron falta horizonte. Pelo menos até à data. Que o hábito faça um monge melhor do que Hollande.

Por: André Barata

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