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Música para surdos

TMG acolhe concerto que promete romper as barreiras entre o som e o silêncio

«Comecei a traduzir o que cantava, porque os próprios surdos me pediram». Foi assim que Paula Teixeira iniciou, em 1998, uma nova forma de estar na música. O seu objectivo é tornar a música verdadeiramente universal fazendo-a chegar a todo o público. Esta noite, no café-concerto do Teatro Municipal (TMG), será a vez da Guarda descobrir como é que Paula Teixeira une a língua portuguesa à linguagem gestual, num concerto único onde o som e o silêncio se fundem numa comunhão de emoções. A cantora (guitarra) dará um espectáculo acústico, acompanhada por Pedro Soares (guitarra acústica) e Pedro Carvalho (viola e percussão).

O alinhamento é feito de temas bem conhecidos do público, por terem sido bandas sonoras de algumas novelas de ficção nacional, como é o caso de “Anjo Selvagem”, “Baía das Mulheres”, “Morangos com Açúcar” e mais recentemente “Mundo Meu”, sem esquecer os temas dos seus dois álbuns de originais, “Promessa” e “Anjo Azul”. Paula Teixeira é uma intérprete a dobrar ao cantar com a voz, mas também com as mãos em língua gestual: «É um “português gestual” quando canto e traduzo», explica. A cantora lembra que não foi fácil no início cantar e traduzir ao mesmo tempo, devido «à complexidade da língua gestual». Tudo começou em 1997, quando participou no programa “Chuva de Estrelas” e reuniu em si dois mundos aparentemente tão opostos: o som e o silêncio. A pedido de quem sentia a vibração da música, mas não ouvia a letra, a cantora tornou a música «universal». Actualmente a preparar o seu terceiro disco, Paula Teixeira considera que este trabalho tem uma «maior maturidade musical», pois não gosta de ser apenas a intérprete e dá igualmente o máximo de si na composição. «Este álbum é como um renascer», garante. É por isso que lhe chamou «Flor de Lótus», embora desconheça se este será o título final do novo álbum.

Trata-se de um trabalho repleto de influências étnicas e orientais, mas também um pop rock mais maduro. A cantora reconhece que as pessoas ficam «mais sensibilizadas» ao ouvirem um tema que já conhecem interpretado e traduzido por si, por isso «as músicas das novelas têm um maior impacto». A receptividade do público é muito boa, tanto dos ouvintes, como dos surdos, e é nessa música que «chega a todos, que reside a verdadeira universalidade da música». Conhecida como a “menina da língua gestual” em vários programas televisivos, Paula Teixeira já conquistou o título de cantora, aliás «a música faz parte de mim» garante. É cantora desde os 12 anos, integrou várias bandas de garagem, aprendeu a tocar guitarra e mais tarde escolheu o curso de intérprete de língua gestual, porque «queria algo que me preenchesse, que fosse gratificante e escolhi, mesmo não tendo ninguém surdo-mudo na família». Hoje, a cantora gostava que os portugueses conhecessem a sua música e promete continuar «a lutar» pelo seu sonho, «para que as pessoas percebam a essência da Paula Teixeira».

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