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Museu Grão Vasco de Viseu reabriu ao público

Espaço dedicado ao pintor renascentista abriu as portas quatro anos depois de ter encerrado para obras

O Museu Grão Vasco, em Viseu, abriu finalmente as portas ao público na última terça-feira, Dia Internacional dos Museus, após uma paragem de quatro anos para obras. Uma reabertura tão esperada que mereceu até a presença do primeiro-ministro, Durão Barroso, na segunda-feira para uma espécie de pré-inauguração daquele espaço dedicado à pintura de Vasco Fernandes (nome verdadeiro de Grão Vasco).

Dois mil convidados e muita música do DJ Zé Pedro Moura, do bar Lux-Frágil de Lisboa, animaram o claustro do Museu, numa programação pouco habitual para um museu de pintura antiga.

O arquitecto portuense Souto Moura assina a remodelação do edifício, se bem que de uma forma sóbria e discreta. Como confessou ao jornal “Público” na edição de segunda-feira, a sua «preocupação final» era «que o edifício continuasse a ter um ar anónimo, que pertence a um colectivo», referindo-se claramente às várias intervenções que foram feitas naquele património ao longo da história. O exterior do museu tem a mesma caixilharia que Souto Moura usou nas janelas da Pousada de Santa Maria do Bouro, para manter também um certo contraste com a Sé de Viseu, que está encostada ao Museu. O arquitecto manteve apenas as quatro paredes do exterior por serem em granito. Já o restante, que era em betão, foi demolido. O pátio da entrada foi diminuído cerca de um terço da área para colocar aí uma escada e um grande monta-cargas que o edifício não possuía enquanto que no claustro foi demolido o último piso, também em betão.

No piso zero – que anteriormente era dedicado a exposições – está um restaurante com esplanada (com oito mesas e cadeiras) na parte coberta do claustro e que estará aberto até às 24 horas. O charme e o ambiente intimista estão praticamente assegurados com os candeeiros de Siza Vieira, loiça de Walter Gropius e copos com design finlandês. Para além desta valência, existe ainda uma livraria com 1300 títulos, numa parceria com a Livraria Leitura do Porto, a loja do museu, a biblioteca, um auditório para conferências e a sala de exposições temporárias. Mas nem só a estrutura sofreu alterações. As molduras dos quadros antigos de Grão Vasco, mesmo os que foram emprestados para a inauguração, foram revestidas a ouro para dar mais brilho às pinturas. Os quadros de Grão Vasco estão expostos no piso superior, cujo tecto cresceu 1,2 metros para se poder remontar na perfeição os 14 painéis que retratam o retábulo da sé de Viseu e onde se inclui o famoso painel “Adoração dos Magos”. O ex-libris do museu é o retábulo de S. Pedro, reconhecido como sendo unicamente da sua autoria, mas ainda é possível ver no Museu painéis da “Última Ceia”, da “Assunção da Virgem”, duas santas do Museu Soares dos Reis e um “Calvário” da colecção Alpoim Calvão. Para além destes, estarão ainda expostos os quadros dos colaboradores, principalmente os nove que se estimam terem sido feitos pelo viseense Gaspar Vaz, um dos seus mais importantes colaboradores, e de alguns mestres com quem Grão Vasco colaborou, como Gregório Lopes, Cristóvão de Figueiredo e Garcia Fernandes.

Quem foi Grão Vasco

O pintor Vasco Fernandes, mais conhecido como Grão Vasco, deverá ter nascido algures em 1475 ao pé de Viseu. Não se sabe ao certo a data do seu nascimento, os parentes ou até a data da sua morte, que se estima entre o fim de 1542 ou início de 1543. Grão Vasco trabalhou durante 40 anos em Viseu, tendo trabalhado para os bispos das dioceses de Viseu e de Lamego e para algumas casas da região do Douro e das Beiras. A sua obra mais célebre é “S. Pedro”, tendo pintado ainda os cinco painéis que restam do retábulo da Catedral de Lamego, sendo ainda da sua autoria as pinturas “Lamentação com Santos Franciscanos”, de cerca 1520, e o retábulo com o tema “Pentecostes”, considerada por muitos como a sua melhor obra. Os 14 painéis do antigo retábulo de Viseu resultam de uma colaboração com uma equipa de pintores flamengos, tal como era habitual na época. De resto, é ainda possível identificar a sua participação em mais 33 painéis.

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