Foi em tempos um dos maiores centros de produção oleira da Beira Baixa, abrangendo cerca de 80 por cento dos habitantes. Com o passar dos anos, a principal actividade da freguesia do Telhado, no concelho do Fundão, foi-se esmorecendo ao ponto de apenas restar um oleiro na freguesia que, por sinal, não se encontra em actividade. Por isso, um grupo de 12 mulheres decidiu “arregaçar as mangas e meter a mão no barro” para voltar a dar o estatuto de outrora à aldeia. Actualmente, e de há três semanas para cá, esta dúzia de mulheres encontra-se a frequentar um curso de formação profissional em olaria, orientado pelo CEARTE – Centro de Formação Profissional de Artesanato, de Coimbra. No total, serão 1680 horas durante um ano para transmitir um vasto conjunto de técnicas modernas e conhecimentos em olaria. Aqui, irão aprender não só a utilizar o barro tradicional, mas outro tipo de materiais e pastas adequados para a roda mecânica. Além de aprenderem a fazer as peças, estas formandas vão adquirir ainda conhecimentos de desenho, texturas, cerâmica e vidrados. «Um curso moderno e com novas tecnologias para uma olaria diferente, mais atractiva, interessante e rentável», explica o formador João Pedro Ferreira.
A iniciativa do curso surgiu da Junta de Freguesia local, que vê nesta formação a «última oportunidade» para regenerar a actividade, aponta o autarca Aires Proença. Isto porque já se tinha tentado fazer este tipo de formação anteriormente, com oleiros locais, mas as coisas acabaram por não resultar. Agora, e tratando-se de uma formação apoiada pelo Centro de Emprego e orientada por um centro especializado, Aires Proença acredita que a actividade «vai continuar» após a formação. Pelo menos assim espera, visto já haver conversações com a Câmara do Fundão para apoiar as formandas que pretendam criar o seu próprio negócio, nomeadamente na aquisição de material e rodas eléctricas. Candidatas não faltam. É o caso de Jacinta Fouto, de 33 anos, que pretende mesmo dedicar-se à actividade como profissão após o curso. «Esta arte desapareceu por completo na freguesia. Estou a tentar arranjar um grupinho aqui para continuar a actividade, criando o nosso próprio emprego», revelou.
Outro dos objectivos de Aires Proença passa ainda pela criação de um Museu de Olaria, para potenciar turisticamente a aldeia. «Estamos a falar de uma tradição muito antiga, que abrangeu entre 70 a 80 por cento dos habitantes», salienta o presidente da Junta de Freguesia, adiantando que a ideia é complementar o futuro museu com um espaço dedicado à museologia e um outro para que algumas destas formandas possam ali produzir cerâmica. Este espaço museológico deverá nascer na antiga Casa Senhorial ou nos antigos fornos da freguesia. «É uma ideia que temos que estudar, visto que ambos precisam de ser requalificados», refere.
O último oleiro da freguesia
Eduardo da Cruz Ribeiro, de 79 anos de idade, é o único oleiro da freguesia do Telhado. Resistiu ao tempo e às novas técnicas. A roda tradicional continua a ser a sua eleita para produzir as peças de cerâmica que, em outros tempos, vendia não só no Telhado como noutros concelhos limítrofes. Apesar de não se encontrar actualmente em actividade, por motivo de doença, o “Ti Eduardo” – como é conhecido por aquelas bandas – não resiste em se sentar na velha roda manual. «Enche-me os olhos», diz comovido, ao mesmo tempo que se preparara para fazer uma peça de barro. Por ora, espera apenas que a actividade volte a dominar na freguesia, apesar de estar um pouco reticente. «Se houvesse lá uns três ou quatro homens, estava mais convencido», refere.
Liliana Correia