Foram centenas as pessoas que marcaram presença nas cerimónias fúnebres de Pedro Miguel Jesus Rodrigues, o bombeiro de 41 anos que faleceu no feriado do 15 de agosto, quando combatia as chamas na freguesia do Peso no grande incêndio que afetou várias freguesias do concelho da Covilhã no final da semana passada.
O bombeiro, solteiro, natural e residente na Covilhã, estava acompanhado por três colegas junto a casas ameaçadas pelo fogo na freguesia do Peso quando foi circundado pelas chamas e não conseguiu fugir, ao contrário dos seus companheiros. Pedro Rodrigues morreu ao início da tarde de quinta-feira depois de ter sido apanhado pelas chamas na sequência de «uma súbita mudança de vento», revelou o presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros da Covilhã. «Estava acompanhado por mais três bombeiros e tentavam evitar que as chamas chegassem às habitações que se encontravam em risco», referiu Joaquim Matias. «Os bombeiros que o acompanharam contaram que o vento mudou muito rapidamente, deixando-os cercados pelas chamas. Eles conseguiram fugir, mas, infelizmente, o Pedro já não conseguiu escapar. Encontrava-se mais à frente, na primeira linha do combate», explicou Joaquim Matias. O bombeiro terá morrido debruçado sobre o seu capacete. A missa de corpo presente realizou-se na tarde de sábado na Igreja da Estação (Santíssima Trindade) e o funeral foi acompanhado por centenas de populares e muitos bombeiros, bem como de personalidades da cidade e da região.
Presente na cerimónia, o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, não falou aos jornalistas. Quem também esteve na Covilhã foi o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses que defendeu que o Código Penal «tem de ser analisado de forma que não permita que um incendiário seja levado a juízo e depois vá para casa com apresentações periódicas. Estas coisas não podem continuar assim», considerou. Jaime Soares considerou que é «urgente» ordenar a floresta portuguesa que diz estar «maltratada e abandonada», dando azo ao «grande problema dos fogos em Portugal». O responsável também criticou o Estado que diz ser proprietário da «floresta mais maltratada do país» e que «com este exemplo, não se pode exigir aos outros que façam diferente». A Autoridade Nacional de Proteção Civil também expressou publicamente «as mais sentidas condolências pela morte trágica» de Pedro Rodrigues.
A Câmara da Covilhã, bem como a Associação Humanitária dos Bombeiros, colocaram as respetivas bandeiras a meia haste, em sinal de luto e de homenagem ao malogrado bombeiro. Em comunicado, o município lamentou a morte do bombeiro que «teve um papel fundamental no combate ao violento incêndio florestal que lavrou no concelho». A autarquia disponibilizou-se «para prestar aos seus familiares todo o apoio que entendam necessário, numa hora tão difícil como a que estão a viver». No comunicado, a Câmara agradeceu aos mais de 400 bombeiros e aos habitantes que, «durante inúmeras horas, combateram, de forma tão abnegada e eficaz», o incêndio.
O fogo florestal lavrou durante dez horas na quinta-feira, tendo-se reacendido na tarde de sexta-feira, dia em que foi dado como dominado às 16h40. O incêndio em zona de mato, que deflagrou na Coutada, obrigou à mobilização de cerca de 400 operacionais. O incêndio começou por volta da hora de almoço na localidade de Coutada e afetou ainda as freguesias vizinhas de Vales do Rio, Peso e Dominguiso. Em função do sucedido, diversas candidaturas à Câmara da Covilhã suspenderam as respetivas ações de campanha durante vários dias. Entretanto, os vereadores do PS na Câmara da Covilhã pediram calamidade pública para as zonas afetadas pelo incêndio. Em carta enviada na última terça-feira ao presidente do município Carlos Pinto, os eleitos socialistas pedem ao edil que interceda junto do governo no sentido de ser declarada calamidade pública para a área afetada, permitindo ao município aceder ao fundo de emergência municipal para ressarcir as populações dos prejuízos provocados pelas chamas.