O general António Pires Veloso, um dos protagonistas do 25 de novembro de 1975, que morreu domingo aos 88 anos no Hospital Militar do Porto, foi a enterrar anteontem na Mesquitela (Celorico da Beira). Antes, o corpo esteve em câmara ardente na igreja da Lapa, na Invicta.
Pires Veloso, que ficou conhecido como “vice-rei do Norte”, nasceu em Folgosinho (Gouveia) em 1926. Enquanto governador militar do Norte foi um dos principais intervenientes no contragolpe militar de 25 de novembro de 75, que pôs fim ao “Verão Quente” de 1975. Nesse período destacou-se por fazer frente aos setores mais radicais das Forças Armadas, colocando as unidades daquela Região Militar ao lado dos moderados e dos sectores que lutavam por uma democracia de tipo ocidental, como a que hoje temos em Portugal. Em 1980, candidatou-se à Presidência da República como independente, numas eleições em que Ramalho Eanes foi reeleito. Em 2006, no dia 25 de abril, foi agraciado com a Medalha Municipal de Mérito pela Câmara do Porto, à data presidida por Rui Rio, pelo seu «desempenho militar» e «papel fundamental na consolidação da democracia nacional durante o período em que comandou a Região Militar do Norte».
A 25 de novembro de 2008 lançou um livro de memórias, “Vice-Rei do Norte, Memórias e Revelações”, escrito da mesma forma que viveu a sua vida: «Sem papas na língua e olhos nos olhos». Em novembro de 2012, em entrevista à Lusa, disse haver «um paralelismo» entre a situação atual e o “Verão Quente” de 1975, que terminou no 25 de novembro. «Há um certo paralelismo entre a situação sócioeconómica de agora e os dias tormentosos de 1975. Agora, desenrola-se uma luta, que envolve de um lado um povo trabalhador, sacrificado, paciente, orgulhoso de ser português, e do outro um conjunto de governantes rodeados de pessoas dos partidos políticos e outras cujo comportamento nos leva a admitir que existe um conluio nebuloso entre eles, esquecendo por completo os ideais de Abril», disse na altura.
Para Pires Veloso, os ideais do 25 de Abril «foram deturpados pelas elites totalitárias da extrema-esquerda, gerando um clima de pré-guerra civil e um caminho altamente perigoso que seria corrigido no 25 de novembro, com a união de esforços de militares e da esmagadora maioria da população, enquadrada pelos partidos democráticos». O general era tio do músico Rui Veloso e irmão mais novo de Aureliano Veloso, o primeiro presidente da Câmara do Porto eleito após o 25 de abril.