Arquivo

Moradores dos bairros da Fraternidade e Fomento reclamam obras

Quem reside nesta zona da cidade queixa-se do elevado estado de degradação das habitações

Maria Cardoso habituou-se a seguir as previsões meteorológicas com atenção. Nos dias de chuva, enche o quarto de baldes e outros recipientes: «Chove cá dentro. Tem ideia do transtorno que isto causa?», queixa-se. Quando há vento, as noites são passadas em claro com receio de que o telhado vá abaixo. «A casa está a cair, como todas as outras, e a Câmara nada faz», lamenta esta moradora da Fraternidade, o bairro guardense que foi erguido há 35 anos para albergar famílias das ex-colónias e espera por uma solução desde 1995.

Cá fora, há chapas de zinco aqui e ali, incluindo no telhado – como acontece em todas as casas –, e um dos lados da pequena habitação em madeira foi reforçado com blocos de cimento quando a casa contígua à de Maria Cardoso foi demolida. Foi destruída quando o morador morreu. «Com os blocos sempre está mais segura», adianta a residente, que ali vive há mais de 20 anos. «Não há condições para que as pessoas aqui continuem», lamenta a moradora, de 52 anos, para quem existe um «grande desleixe» por parte da Câmara da Guarda na manutenção das seis casas ainda ocupadas. As promessas já «foram tantas» que Maria Cardoso duvida que a autarquia tenha em 2012 edifícios recuperados no centro urbano para o realojamento, como disse a O INTERIOR na semana passada a vereadora da Acção Social: «Não acredito, porque a Câmara não tem dinheiro», aponta.

O marido, de 55 anos, também está pouco optimista: «Ouvimos promessas há anos, desde o tempo do Abílio Curto», recorda. Alfredo Rebelo diz estar «revoltado» e «indignado» com tanta espera. «Estamos aqui pior que os bichos», critica. Opinião idêntica tem Adelino Fernandes, que veio de Angola para o Bairro da Fraternidade: «Eu e a minha mulher gostávamos de viver noutras condições, nesta casa ou noutra, porque isto é para animais», afirma o sexagenário. No seu entender, o bairro «é uma vergonha para a Guarda». Mais acima, no vizinho Bairro do Fomento – que a Câmara quer também requalificar quando intervier na Fraternidade – a situação não é muito diferente. São 25 os agregados familiares a residir neste bairro criado há 22 anos num terreno da Câmara, sendo que as casas pertencem ao Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU).

Aqui, os problemas não se ficam pelas casas, também em elevado estado de degradação. Uma das principais reivindicações dos habitantes, na grande maioria de etnia cigana, é que a Câmara acabe com um amontoado de lixo que existe junto ao muro que separa o bairro do parque de campismo. «A Câmara nem vem limpar o bairro», protesta Encarnação da Costa. Para esta moradora, «o terreno é da Câmara que tem, por isso, responsabilidade pelas pessoas que cá moram. Há aqui crianças doentes e vivemos na miséria, no meio de ratos e bichos», queixa-se, lamentando que chova «como na rua» no interior das casas. Ao lado, o genro, Tiago Lourenço, diz ter pedido ajuda várias vezes: «Só quero que me ponham janelas, portas e telhado». Mora com a mulher e três filhos pequenos numa casa onde até os vidros estão partidos. «As crianças estão sempre a adoecer, principalmente no Inverno», acrescenta.

Em frente reside Ana Santos há 22 anos. Tem quatro filhos, entre os quais uma criança com Síndrome de Crown, o que a levou a reclamar obras ou uma casa nova junto do IHRU e também da Câmara: «O meu menino está muito mal. Já cá vieram dar uma vista de olhos, mas continua tudo na mesma e até me disseram que o melhor era pôr o menino na Protecção de Menores», refere. «Se não nos podem dar uma casa nova, pelo menos que componham esta», pede Ana Santos, que questiona: «Não somos humanos, de carne e osso, como as outras pessoas?».

Maria Cardoso e Alfredo Rebelo aguardam há anos por uma casa nova

Comentários dos nossos leitores
Ana Costa portomenxxx@hotmail.com
Comentário:
Concordo com estas afirmações destes habitantes, pois este bairro não tem nenhumas condições. Este comentãrio fica para as unidades responsáveis: A camara e o IHRU que analisem as situações! Obrigado pelo incomodo!
 

Moradores dos bairros da Fraternidade e
        Fomento reclamam obras

Sobre o autor

Leave a Reply