Aquilo que poderia não passar de apenas mais um telefilme, daqueles em fim de noite na TVI, e que tem lá todos os ingredientes para isso incluídos, revelou-se umas das poucas agradáveis surpresas neste inicio de ano cinéfilo, até agora repleto de desilusões. Falo de «Monstro», esse filme baseado num caso verídico que valeu o Oscar a Charlize Theron, numa interpretação inesquecível, onde se transformou em algo de tão assustadoramente diferente daquilo que ela realmente é que, muitas das vezes, é impossível não achar tudo aquilo um exagero. Talvez seja. Mas este é um daqueles papéis que todas as actrizes querem agarrar e que surge uma vez na vida. Isto quando surge. Mas todos os prémios ganhos com este seu papel são merecidos e só para podermos ver esta transformação da Bela em Monstro já este filme mereceria uma oportunidade, mas, surprise!, há mais.
A realização de Patty Jenkins, mesmo que por vezes deixe o filme aproximar-se de forma perigosa do já referido estilo telefilme baratucho, consegue mostrar, na maior parte das vezes, uma forma de pensar cinema que deixa antever-lhe um futuro interessante. Não há aqui cenas ou sequências a metro, encaixadas de forma arbitrária. Através de altos e baixos, qual montanha russa de emoções, com direito às suas vertigens, enjoos e euforias, «Monstro» conta-nos a história real de Aileen Wuornos, prostituta responsável pelo assassínio de sete homens e considerada uma das primeiras serial-killers femininas. As tentativas (constantes e que vão sendo largadas ao longo de todo o filme) de transformar em mártir Wuornos, ou de, no mínimo desculpabilizar os seus actos, são mesmo o ponto fraco de «Monstro». Mas num ano em que tardam em chegar Belas películas, que venham mais Monstros como este.
Por: Hugo Sousa
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