No último mês comecei a beber água – em quantidades industriais semelhantes às usadas por um campo de arroz do Baixo Mondego – e deixei de beber refrigerantes. Isto não se deve, note-se, a nenhuma vontade de emagrecer e parecer um daqueles rapazes que aparecem nas revistas só de cuecas, com ar de quem não se lembra onde deixou o resto da roupa. Pode o leitor julgar que é minha intenção ser olhado com desejo pelo sexo feminino (refiro-me às mulheres, não ao “sexo sinistro” de que fala Valter Hugo Mãe), que pretendo ouvir as exclamações de luxúria feminina ao olharem o meu renovado corpo esbelto: “ai, filho, não descanso enquanto não ler a tua crónica desta semana”. Pode, mas julga mal.
Esta mudança de hábitos deve-se ao seguimento da intervenção médica que aqui relatei a semana passada, uma espécie de “Guerra das Estrelas” no cenário de “O Micro-Herói”. Após um poderoso raio laser rebelde ter destruído a Estrela da Morte (ou “cálculo renal”, para quem prefira Henry Gray a George Lucas) estacionada no viaduto que desce do rim, efectuei consultas variadas com um dos melhores especialistas mundiais em problemas urológicos: a internet.
De acordo com a página do Banco Nacional de Informação sobre Doenças Renais e Urológicas do Instituto Nacional de Saúde norte-americano, a percentagem da população que sofre de pedras nos rins ronda os 10%. Esta informação parece-me confiável, já que na altura em que a pesquisei Washington ainda dispunha de orçamento federal. Em comparação, veja-se que os 10% mais ricos da população portuguesa detêm cerca de 30% do rendimento nacional. Minoria por minoria, preferia pertencer a esta última. Como não me tocou tal fortuna, e assim cantava a Floribella antes dos implantes, sou remediado em notas, mas rico, rico em oxalatos.
Só durante o tempo que este texto levou a ser escrito bebi litro e meio de água (com infusões). E agora, se me dão licença, vou visitar uma vez mais o museu de Duchamp.