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Modelo de ensino finlandês experimentado na Guarda

Método de ensino atualmente usado na Finlândia já tinha sido experimentado na Escola de Santa Zita entre 2001 e 2006

Num momento em que o modelo de ensino português é alvo de comparações com o modelo finlandês, sendo este último apresentado como uma referência, a Guarda foi percursora. Entre 2001 e 2006, a Escola Básica de Santa Zita integrou um estudo experimental promovido por Carlos Carvalho da Costa numa altura em que integrava uma equipa de investigadores da Universidade de Salamanca.

«Parece que o que se está a fazer lá fora é único e em Portugal não se está a fazer nada», refere o professor, que lembra que naquele período foram lançadas «sementes percursoras daquilo que a Finlândia está a fazer». O jornal “Desejo de Voar”, várias vezes premiado, foi o pano de fundo do projeto. Numa «abordagem de cooperação», o jornal era realizado por toda a comunidade escolar, ao mesmo tempo que os conhecimentos previstos no programa iam sendo adquiridos pelos alunos. Através da aprendizagem por tópicos ou temas, «o chamado ensino do fenómeno, que é o que está a acontecer na Finlândia», os conteúdos programáticos eram transmitidos aos alunos. Durante este período, na escola de Santa Zita «aproveitava-se o que ia ocorrendo no dia-a-dia e fomos transpondo para a sala de aula, envolvendo toda a comunidade. Numa perspetiva de desenvolvimento do programa, mas com o cunho da atualidade».

No total estiveram envolvidos cerca de 250 alunos e entre 10 a 15 professores.

Mais de 10 anos após o início da aplicação do projeto, o investigador reconhece que as crianças de hoje são diferentes: «São a geração do digital, do tecnológico», mas «este tipo de projetos vai ao encontro disso e daí ter o eco que lhe está a ser dado», adianta Carlos Carvalho da Costa. Na altura foram pedidos apoios ao Ministério, que deu uma pequena ajuda, mas o docente considera que o projeto «não teve o eco que deveria ter tido». «Foi um trabalho escrutinado a nível científico, cultural, pedagógico, social, mas depois ficou numa prateleira da universidade», lamenta. Ora, este é um modelo que «obriga à mudança de mentalidades». Segundo o professor, a sua aplicação «vai tirar poder à tutela e às direções das escolas», passando a estar nos professores e alunos, o que obrigará «a estilhaçar programas e manuais».

«Do ponto de vista científico concluímos que obriga a uma disponibilidade permanente por parte do aluno e professor, das estruturas e de infraestruturas da comunidade escolar no seu todo», mas o docente garante que «o aluno cresce imenso» com a sua aplicação na sala de aula. Os resultados obtidos foram «promissores a nível da aprendizagem, mas isso mexe como tudo e todos». Para Carlos Carvalho da Costa, «deveria ser dada abertura para trabalhar a quem está nas escolas mediante objetivos claramente definidos, mas que alunos e professores fossem libertos de tempos letivos, não letivos e dos programas. Portanto, o objetivo é dar a liberdade do projeto ser implementado em cada escola». O professor recorda-se de «um aluno que teve bastantes dificuldades de integração e depois de fazer parte do projeto era o primeiro a apresentar-se no centro de recursos para pesquisar e teve um sucesso impressionante a nível escolar».

Com um projeto diferente verificava-se também que havia uma vontade maior dos alunos participarem nas atividades «e acabavam por trabalhar fora da aula». A aprendizagem era «centrada no aluno» e isso ter-se-á conseguido comprovar nesta investigação, pois «os alunos sentiam-se motivados», recorda. Inicialmente Carlos Carvalho da Costa recorda ter encontrado alguma descrença, mas «quando começaram a ver o efeito que o trabalho estava a ter, todos se envolveram». Embora o paradigma finlandês seja apresentado como um modelo a seguir, Carlos Carvalho da Costa lembra que «tem de haver da parte do Ministério da Educação uma abertura e todos teremos a ganhar. Não vale a pena falar em projetos inovadores quando nós metemos “as mãos na massa” e depois não é dada à importância devida».

Ana Eugénia Inácio Estudo experimental envolveu investigadores da Universidade de Salamanca

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