Nacos de gato com avelãs e alecrim, monstro marinho com iguarias mágicas, pernil de bácoro queimado com especiarias e fermentado de leite tapado com sangue de cerejas foram algumas das especialidades degustadas numa ceia de mistérios e alquimias, num cenário decorado a preceito e assombrado por bruxas, corcundas, saltimbancos, fantasmas e outras criaturas do imaginário popular.
O repasto aconteceu na última sexta-feira à noite nos antigos Paços do Concelho da Aldeia Histórica de Castelo Novo, promovido pela Fundão Turismo, EM e pela empresa de animação aveirense “Tempos e Ventos”, com o objectivo de promover o município junto de empresários turísticos. «O Fundão é um concelho com mistérios e segredos que vale a pena serem descobertos», enalteceu Dias Rocha, administrador da Fundão Turismo. Os medalhões para afastar os “maus olhados”, distribuídos à entrada do recinto, deixavam antever uma verdadeira noite mágica. E a curiosidade começou a palpitar nos convivas assim que caiu a escuridão: velas espalhadas pelo espaço e personagens estranhas, que se misturaram entre a população a purificar o ar com incensos, lançaram o “feitiço” da atenção. O encanto surgiu logo de seguida com a dança da água. E enquanto os convivas se deliciavam com as “Fábulas da Degustação”, os actores da empresa de Desanimação Medieval “Malha d’Aço”, da “Tempos e Ventos”, passeavam-se pelas mesas: eram bruxas que liam a sina e ditavam o destino aos convidados ou o corcunda que se intrometia nas conversas e causava a barafunda. Mas também os fantasmas que vaguearam nas sombras e até o saltimbanco que animou a noite com malabarismos.
Seguiram-se as feras domadas pela bruxa e um espectáculo de fogo para encerrar a noite. «Tentámos pegar nas superstições e nas figuras do imaginário popular para criar este espectáculo, com uma decoração e ementa a condizer», explicou Cristina Perestrelo, responsável pela “Tempos e Ventos”, lembrando que houve a preocupação de inserir na gastronomia algumas das especiarias e ervas medicinais ou curandeiras que «as pessoas usavam antigamente para afastar os maus espíritos», tal como a arruda, a cidreira, o sabugueiro, o louro, o rosmaninho, o alecrim, a camomila ou a oliveira. A iniciativa pretendeu ainda encerrar o Festival da Cereja que a Fundão Turismo desenvolveu este mês para promover o concelho através da cereja, o fruto ex-libris do município. «Temos grandes eventos para promover o concelho aliado à cereja. Podemos criar tudo à volta deste fruto, desde o queijo, o vinho e a gastronomia», destacou Dias Rocha, satisfeito com os resultados atingidos pela empresa municipal ao longo do último ano. «Estamos confiantes no futuro. O Fundão tem notoriedade e é reconhecido no país», salientou.
Apesar de não revelar números, o administrador da Fundão Turismo garante que «há mais pessoas a visitar o concelho e hotéis lotados» desde que se começou a promover o município após a cisão com a Região de Turismo da Serra da Estrela. De resto, falhou apenas a adesão da população de Castelo Novo à Ceia de Mistérios e Alquimias, uma aldeia sobejamente conhecida pela ligação ao oculto e aos OVNIS. «O espectáculo está muito bonito, mas os 30 euros que exigiam é incomportável», queixou-se Celeste Maria dos Reis, uma habitante que assistia ao espectáculo fora do recinto. Mais crítica estava Leonor Alves, de 18 anos, para quem o acontecimento deveria ter sido «mais divulgado na aldeia e, sobretudo, para a população local». E apesar de achar que há mais turistas na aldeia, a jovem não se mostra satisfeita: «É a única Aldeia Histórica do concelho e penso que deveria ser mais aproveitada, pois faltam mais eventos para atrair as pessoas», aponta.
Liliana Correia